Por Warwick Mota
Vamos
falar da prece. Orar a Deus é “pensar nele; é aproximar-se dele; é pôr-se em
comunicação com ele”[1]. Nesse sentido, demos levar em conta três aspectos:
oramos para louvar, para pedir ou, finalmente, para agradecer.
A
prece é um pilar, por meio do qual obtemos o concurso dos bons espíritos. Toda
prece é um apelo da alma, em ligação instantânea com o plano espiritual,
segundo os princípios de afinidade que estabelecemos para que isso aconteça.
A
prece é o elo que unirá a vontade-apelo à vontade-aceitação, levando em conta o
nosso mérito e a capacidade que temos de receber. Ou seja: a prece, qualquer
que seja ela, é uma ação, provocando outra ação, que à primeira corresponde.
Essa
oportunidade de estar em contato com os bons espíritos, que é a prece, faz com
que o homem desenvolva a força moral necessária para vencer as dificuldades que
impedem o seu crescimento espiritual, ou desenvolva a força de que necessita,
para voltar ao caminho certo[2].
O
hábito da prece permite a aproximação com a Espiritualidade, e isso traz,
consigo, modificações aos cenários da existência, porque também traz mudanças
nas posturas que assumimos na vida.
É
certo que nem sempre a prece vai resolver os problemas do nosso cotidiano, mas,
com certeza, por meio da oração, vamos haurir a energia que vai nos ajudar a
superarmos as dificuldades.
No
momento em que elevamos verdadeiramente o pensamento ao plano mais alto,
conseguimos estabelecer a melhor sintonia. E, aprofundando a questão, vemos
que: “(...) Na prece encontramos a produção avançada de elementos-força. Eles
chegam da Providência em quantidade igual para todos os que se dêem ao trabalho
divino da intercessão, mas cada Espírito tem uma capacidade diferente para
receber”[3].
No
pensamento está o fulcro principal da prece, posto que a mente elevada, a fé
verdadeira, é vida em movimento. Assim sendo, ao orarmos, não há receita. Não há
fórmula miraculosa para a prece.
Portanto,
não precisamos fazer cópias de preces, nem tentar um palavreado inútil, cheio
de um balbuciar de lábios, valorizando mais as palavras que os pensamentos...
Uma
qualidade que deve ter a prece é que ela, para ter sentido, tem de ser
inteligível. Não adianta, na hora da prece, elaborar-se um discurso, com muitas
palavras rebuscadas, se esse mesmo discurso for vazio de sentimento, ou se as
pessoas que estiverem em comunhão, naquele momento, não conseguirem entender o
que se diz. Ou seja: também para a hora da prece, necessária a simplicidade, a
pureza de coração.
Paulo
de Tarso diz: “Se eu ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para
aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim”[4].
A
prece dispensa a fraseologia inútil, devendo ser simples, inteligível, clara.
Isso porque a própria estrutura verbal que se coloca, num diálogo com alguém,
ao se expressar, afasta ou aproxima as pessoas. E, se eu me expresso de maneira
rebuscada, as pessoas encontrarão mais dificuldade de se aproximarem de mim!
Assim também com a prece. Como vou conseguir, no caso de uma prece feita em
conjunto, que as pessoas se unam à rogativa, se elas não compreendem o que
digo?!
O
que temos aprendido com a Doutrina Espírita é que a prece não deve ser
recitada, mas sentida. Que deve haver recolhimento, um retorno da mente a Deus.
E,
no momento em que nós formos orar, não devemos nos expor em evidência, mas
devemos orar em secreto. Lembrando, aqui, que secreto não é escondido: secreto
apresenta um sentido de recolhimento, de respeito a Deus. É um estado de
recolhimento íntimo.
Vejamos:
quando conversamos com alguém, com quem nos identificamos, abrimos nosso
coração.
Ora,
em sendo assim, com Deus, ainda mais! Se estamos conversando com Deus, essa conversa
tem de ser o mais simples possível, a fim de que haja uma aproximação, porque a
prece, na verdade, deve ser uma conversa que entretemos com Deus.
Se
estou conversando com Deus, é uma conversa entre Pai e filho. Haverá de ser uma
conversa franca, onde quem ora deve também conhecer os próprios limites, deve
aprender a atender e a obedecer à vontade do Pai Celestial.
Porque
isso que Jesus questionou a postura daqueles que oravam em praça pública, aos
altos brados, e orientou aos discípulos que não se comportassem como os que
oravam em praça pública, para serem, assim, vistos...[5]
Não
será pela multiplicidade de palavras que seremos atendidos, nem pela suposta
elaboração da prece.
Pensemos
em nossos filhos: a todos os momentos, eles nos pedem uma série de coisas, mas
nem sempre vamos lhes dar o que pedem; daremos, sim, o que necessitam, pois nem
sempre eles nos pedem o que realmente precisam. Guardando as devidas
proporções, Deus também age assim conosco.
O
que deve sempre haver é a certeza de que, ao orarmos, vamos obter forças para
superar as dificuldades.
Aprendemos
que de nada depende a prece e, portanto, podemos orar em qualquer parte, a
qualquer hora, em todos os momentos.
Em
instantes de desequilíbrio, a prece, então, é fundamental para nos reencontrarmos.
Secretamente vamos nos aprofundar nos escaninhos da nossa alma, penetrar dentro
de nós mesmos, para percebermos o que realmente vai ser bom para nós e, daí,
pedirmos o que precisamos, para suplantarmos as dificuldades.
Orar
é fundamental.
“(...)
Toda prece elevada é manancial de magnetismo criador e vivificante e toda
criatura que cultiva a oração, com o devido equilíbrio do sentimento,
transforma-se, gradativamente, em foco irradiante de energia da Divindade.”[6]
Se
a prece é elaborada no nosso coração com bom sentimento, com louvor a Deus, com
respeito a Ele, com fé, certamente será uma prece vertical, que será levada à
Espiritualidade superior, movida pela mola propulsora dos nossos bons
sentimentos.
A
oração é o mais eficiente antídoto contra as obsessões. Antídoto fantástico,
que os espíritos permitem que utilizemos, pela força da vontade e pela força da
fé.
Publicado na RIE, fev/2017
https://www.oclarim.org/oclarim/materias/5101/revista/2017/Fevereiro/a-prece-nossa-de-cada-dia.html
1.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83. ed.. Parte terceira – cap. II,
questão 659, p. 319. Rio de Janeiro: FEB, 2002.
2.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 131. ed. – cap. XXVII – item
11, p. 315. Brasília: FEB, 2013.
3.
XAVIER, Francisco Cândido. Os Mensageiros. Pelo Espírito André Luiz. 45. ed. p.
156. Rio de Janeiro: FEB, 2012.
4. I
Coríntios, 14:11
5. Mateus,
6:5
6.
XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz. Pelo Espírito André Luiz. 43.
ed. p 84. Rio de Janeiro: FEB, 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário