quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A PRECE NOSSA DE CADA DIA



Por Warwick Mota


Vamos falar da prece. Orar a Deus é “pensar nele; é aproximar-se dele; é pôr-se em
comunicação com ele”[1]. Nesse sentido, demos levar em conta três aspectos: oramos para louvar, para pedir ou, finalmente, para agradecer.

A prece é um pilar, por meio do qual obtemos o concurso dos bons espíritos. Toda prece é um apelo da alma, em ligação instantânea com o plano espiritual, segundo os princípios de afinidade que estabelecemos para que isso aconteça.

A prece é o elo que unirá a vontade-apelo à vontade-aceitação, levando em conta o nosso mérito e a capacidade que temos de receber. Ou seja: a prece, qualquer que seja ela, é uma ação, provocando outra ação, que à primeira corresponde.

Essa oportunidade de estar em contato com os bons espíritos, que é a prece, faz com que o homem desenvolva a força moral necessária para vencer as dificuldades que impedem o seu crescimento espiritual, ou desenvolva a força de que necessita, para voltar ao caminho certo[2].

O hábito da prece permite a aproximação com a Espiritualidade, e isso traz, consigo, modificações aos cenários da existência, porque também traz mudanças nas posturas que assumimos na vida.

É certo que nem sempre a prece vai resolver os problemas do nosso cotidiano, mas, com certeza, por meio da oração, vamos haurir a energia que vai nos ajudar a superarmos as dificuldades.

No momento em que elevamos verdadeiramente o pensamento ao plano mais alto, conseguimos estabelecer a melhor sintonia. E, aprofundando a questão, vemos que: “(...) Na prece encontramos a produção avançada de elementos-força. Eles chegam da Providência em quantidade igual para todos os que se dêem ao trabalho divino da intercessão, mas cada Espírito tem uma capacidade diferente para receber”[3].

No pensamento está o fulcro principal da prece, posto que a mente elevada, a fé verdadeira, é vida em movimento. Assim sendo, ao orarmos, não há receita. Não há fórmula miraculosa para a prece.

Portanto, não precisamos fazer cópias de preces, nem tentar um palavreado inútil, cheio de um balbuciar de lábios, valorizando mais as palavras que os pensamentos...

Uma qualidade que deve ter a prece é que ela, para ter sentido, tem de ser inteligível. Não adianta, na hora da prece, elaborar-se um discurso, com muitas palavras rebuscadas, se esse mesmo discurso for vazio de sentimento, ou se as pessoas que estiverem em comunhão, naquele momento, não conseguirem entender o que se diz. Ou seja: também para a hora da prece, necessária a simplicidade, a pureza de coração.

Paulo de Tarso diz: “Se eu ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim”[4].

A prece dispensa a fraseologia inútil, devendo ser simples, inteligível, clara. Isso porque a própria estrutura verbal que se coloca, num diálogo com alguém, ao se expressar, afasta ou aproxima as pessoas. E, se eu me expresso de maneira rebuscada, as pessoas encontrarão mais dificuldade de se aproximarem de mim! Assim também com a prece. Como vou conseguir, no caso de uma prece feita em conjunto, que as pessoas se unam à rogativa, se elas não compreendem o que digo?!

O que temos aprendido com a Doutrina Espírita é que a prece não deve ser recitada, mas sentida. Que deve haver recolhimento, um retorno da mente a Deus.

E, no momento em que nós formos orar, não devemos nos expor em evidência, mas devemos orar em secreto. Lembrando, aqui, que secreto não é escondido: secreto apresenta um sentido de recolhimento, de respeito a Deus. É um estado de recolhimento íntimo.

Vejamos: quando conversamos com alguém, com quem nos identificamos, abrimos nosso coração.

Ora, em sendo assim, com Deus, ainda mais! Se estamos conversando com Deus, essa conversa tem de ser o mais simples possível, a fim de que haja uma aproximação, porque a prece, na verdade, deve ser uma conversa que entretemos com Deus.

Se estou conversando com Deus, é uma conversa entre Pai e filho. Haverá de ser uma conversa franca, onde quem ora deve também conhecer os próprios limites, deve aprender a atender e a obedecer à vontade do Pai Celestial.

Porque isso que Jesus questionou a postura daqueles que oravam em praça pública, aos altos brados, e orientou aos discípulos que não se comportassem como os que oravam em praça pública, para serem, assim, vistos...[5]

Não será pela multiplicidade de palavras que seremos atendidos, nem pela suposta elaboração da prece.

Pensemos em nossos filhos: a todos os momentos, eles nos pedem uma série de coisas, mas nem sempre vamos lhes dar o que pedem; daremos, sim, o que necessitam, pois nem sempre eles nos pedem o que realmente precisam. Guardando as devidas proporções, Deus também age assim conosco.

O que deve sempre haver é a certeza de que, ao orarmos, vamos obter forças para superar as dificuldades.

Aprendemos que de nada depende a prece e, portanto, podemos orar em qualquer parte, a qualquer hora, em todos os momentos.

Em instantes de desequilíbrio, a prece, então, é fundamental para nos reencontrarmos. Secretamente vamos nos aprofundar nos escaninhos da nossa alma, penetrar dentro de nós mesmos, para percebermos o que realmente vai ser bom para nós e, daí, pedirmos o que precisamos, para suplantarmos as dificuldades.

Orar é fundamental.

“(...) Toda prece elevada é manancial de magnetismo criador e vivificante e toda criatura que cultiva a oração, com o devido equilíbrio do sentimento, transforma-se, gradativamente, em foco irradiante de energia da Divindade.”[6]

Se a prece é elaborada no nosso coração com bom sentimento, com louvor a Deus, com respeito a Ele, com fé, certamente será uma prece vertical, que será levada à Espiritualidade superior, movida pela mola propulsora dos nossos bons sentimentos.

A oração é o mais eficiente antídoto contra as obsessões. Antídoto fantástico, que os espíritos permitem que utilizemos, pela força da vontade e pela força da fé.

Publicado na RIE, fev/2017

https://www.oclarim.org/oclarim/materias/5101/revista/2017/Fevereiro/a-prece-nossa-de-cada-dia.html



1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83. ed.. Parte terceira – cap. II, questão 659, p. 319. Rio de Janeiro: FEB, 2002.

2. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 131. ed. – cap. XXVII – item 11, p. 315. Brasília: FEB, 2013.

3. XAVIER, Francisco Cândido. Os Mensageiros. Pelo Espírito André Luiz. 45. ed. p. 156. Rio de Janeiro: FEB, 2012.

4. I Coríntios, 14:11

5. Mateus, 6:5

6. XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz. Pelo Espírito André Luiz. 43. ed. p 84. Rio de Janeiro: FEB, 2011

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