segunda-feira, 4 de abril de 2016

FATOS E BOATOS NO NOSSO DIA A DIA

 Por Warwick Mota
        
          O ato de falar mal de alguém, o boato constituído, a difamação, a detração, ou qualquer outra palavra que utilizemos para conceituar a ação de denegrir o outro pode sempre ser traduzida e entendida como maledicência.

          Tida, em nosso incipiente estágio evolutivo, por hábito corriqueiro ou comum, essa ação permeia os diversos ambientes sociais, corporativos, institucionais, familiares e até religiosos, contaminando pessoas e grupos, os quais, de maneira invigilante, vêm para ela contribuir, mesmo quando não repetem o que ouvem, mas dão azo à fala desrespeitosa, que, muitas vezes, tem o condão de desmontar a reputação alheia.
“Sabe da última?!”...
 A conversa maledicente quase sempre começa com a entonação característica, traduzindo espécime de senha social para a disseminação de histórias, cuja veracidade ninguém confirma, que avançam de boca em boca, de juízo em juízo, muitas vezes em questão de horas, incrementadas, por vezes, pela maldade na ampliação dos fatos, confirmando o dito popular de que “quem conta um conto aumenta um ponto”.
A ação, irrefletida, de se falar mal de outrem ou de se repetir histórias sobre as quais pouco se sabe, às vezes quase nada se sabe, tomando-as por verdadeiras apenas a título de assunto da hora, tem trazido, ao longo da história humana, prejuízos morais e materiais irreparáveis àqueles que são vítimas da detração, inclusive tem incentivado o que se popularizou chamar de bullying, a violência social contra pessoas, com intimidação sistemática.
Porque se fala tanto dos outros?!
Seria, por acaso, a vida dos outros, mais interessante que a nossa própria vida?!
Na maioria das vezes o que ocorre é que, invigilantes e descurados da nossa própria reforma moral, deixamo-nos contaminar muito facilmente pelas vibrações da maledicência, envolvidos pelo hábito infeliz de não questionar o que se escuta, esquecidos de que, assim agindo, acabamos emprestando os ouvidos a comentários que absolutamente nada constroem de positivo, mas, ao contrário, vinculam-nos a vibrações por demais inferiores.
Dando campo a que fatos não fundamentados espalhem-se, esquecemo-nos de que a responsabilidade pelos assuntos que propagamos é sempre dividida em cotas iguais, entre o maledicente e aquele que presta atenção ao mal.
Na era digital, então, difamar tornou-se processo razoavelmente fácil, porque os boatos, chamados, nas redes sociais, de hoax, num termo da língua inglesa, espalham-se em velocidade vertiginosa, devido à também chamada “compulsão digital”, impulso que leva usuários da rede mundial de computadores a repassarem tudo o que recebem, muitas vezes de maneira irrefletida, esquecidos mesmo do ensino de Jesus, de que: “Não é o que entra na boca que macula o homem; o que sai da boca do homem é que o macula”. (1)
Nos cenários digitais, em que autores de boatos e de fatos infundados podem facilmente se ocultar, nascem as detrações fortuitas, decorrentes, por vezes, de visão equivocada que as pessoas têm dos acontecimentos, ou da imaturidade revelada pelas rupturas de relações pessoais que ferem interesses e ampliam desequilíbrios latentes: muitos conflitos interpessoais revelam atores movidos pela mágoa, os quais, enceguecidos pelo desejo vingança, almejam a destruição do alvo dos seus desafetos e fazem-no com tamanha convicção que pessoas honestas muitas vezes são levadas a crerem no que se afirma, de maneira infundada.
Desfazer uma difamação ou boato, por outro lado, configura-se como processo extremamente complicado, às vezes impossível numa encarnação inteira, gerando dramas, que se arrastam nas teias do tempo, e processos de reparação dolorosa.
A esse respeito, a mentora Joanna de Ângelis ensina-nos que “o maledicente é atormentado que se debate nas lavas da própria inferioridade. Tem a visão tomada e tudo vê através das pesadas lentes que carrega”. (2)
          É de bom termo lembrar que quase todos nós, vez ou outra, somos alcançados pela tentação de acusar e apontar defeitos. O remédio, para esse impulso que nos denuncia a inferioridade espiritual, é sempre buscarmos nos recordar das nossas próprias limitações e imperfeições. Nunca é demais lembrar que, quando estendemos a mão para apontar o dedo a alguém, por um movimento natural involuntário essa mesma mão estará apontando três dedos para nós mesmos...
 
          Nada justo realçar-se os defeitos alheios, no interesse camuflado de prejudicar, de menoscabar o semelhante, ou na vera pequeneza de falar mal por prazer, para tirar proveito da situação, ou, até mesmo, para se vingar, sob qualquer pretexto. 

É o insigne Codificador quem nos adverte:  

Importa, porém, não esquecer que a indulgência para com os defeitos de outrem é uma das virtudes contidas na caridade. Antes de censurardes as imperfeições dos outros, vede se de vós não poderão dizer o mesmo. Tratai, pois, de possuir as qualidades opostas aos defeitos que criticais no vosso semelhante. Esse o meio de vos tornardes superiores a ele. Se lhe censurais a ser avaro, sede generosos; se o ser orgulhoso, sede humildes e modestos; se o ser áspero, sede brandos; se o proceder com pequenez, sede grandes em todas as vossas ações. Numa palavra, fazei por maneira que se não vos possam aplicar estas palavras de Jesus: Vê o argueiro no olho do seu vizinho e não vê a trave no seu próprio.  (3)
          Resta lembrar que as palavras criam imagens vivas, plasmadas no terreno mental do emissor, e, em assim sendo, produzem consequências diretas, em razão proporcional à sua motivação de origem. Fatos infundados e boatos espalhados tendem a sobreviver, alimentados pela mente que os originou com fins destrutivos, e, não raro, o próprio maldizente acaba sofrendo os efeitos da sua ação, na condição de vítima, ou de outras intrigas, ou dos mesmos equívocos que aponta nos outros.         

          Cabe-nos, portanto, em todos os momentos, a emissão da palavra comprometida com o bem e com a verdade, submetida sempre ao cadinho da razão: o que vamos falar é importante? É verdadeiro? Vai ajudar alguém? Vai construir algo de bom?
 
Não encontrando respostas para esses questionamentos, guardemos a informação, qualquer que seja, em nós mesmos, no sempre oportuno e adequado algodão do silêncio.

Transcrito do Reformador abril/2016 

Referências:

1)    Mateus, 15:11

2)    FRANCO, Divaldo (Joanna de Ângelis, Espírito). Lampadário Espírita. Federação Espírita Brasileira. 4ª. ed., Rio de Janeiro, RJ, 18989, p. 128.

3)    KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos: princípios da Doutrina Espírita. Federação Espírita Brasileira. 83ª. ed., Rio de Janeiro, RJ, 2002, questão 903.

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