Por Warwick Mota
Vivenciamos
na atualidade o limiar de uma grande transição: eventos sociais e físicos
eclodem em todo o planeta demonstrando que uma conjunção de forças invisíveis
movimenta diversos acontecimentos. Naturalmente, depreendemos desse cenário que
estamos em irrevogável processo de mudanças, mas sabemos também que, só
paulatinamente deixaremos para trás a condição de mundo de expiação e provas
para alcançarmos, pouco a pouco, a condição de mundo de regeneração.
Frente
a esse cenário, cumpre-nos destacar que a importância do binômio Espiritismo e
Ecologia, para a compreensão do futuro do nosso planeta, vai além da aplicação
de meros princípios éticos-comportamentais. Alcança efetiva vinculação do homem
com o meio ecológico, de forma que ele possa aplicar ao contexto em que vive
fundamentos desse binômio, a fim de que as atividades influenciem positivamente
o meio ambiente, garantindo um futuro sustentável ao planeta, tendo-se em mente
uma proposta holística de harmonia com o Universo.
Kardec
nos ensina em A Gênese¹, que o orbe em que vivemos guarda correspondência
direta com o nível moral em que estamos situados. Em poucas linhas ele estabelece a condição
moral do nosso globo terrestre. Assim orienta o Codificador acerca do progresso
material dos planetas:
O
progresso material de um planeta acompanha o progresso moral de seus
habitantes. Ora, sendo incessante, como é, a criação dos mundos e dos Espíritos
e progredindo estes mais ou menos rapidamente, conforme o uso que façam do
livre-arbítrio, segue-se que há mundos mais ou menos antigos, em graus diversos
de adiantamento físico e moral, onde é mais ou menos material a encarnação e
onde, por conseguinte, o trabalho, para os Espíritos, é mais ou menos rude.
Deste ponto de vista, a Terra é um dos menos adiantados.
Seguindo
essa trilha, entendemos que a educação ambiental ainda é uma questão muito
incipiente no atual estágio evolutivo da humanidade, embora comece a ganhar
contornos mais insinuantes entre algumas nações mais conscientes. Entretanto,
faz-se necessário ampliar os processos de conscientização acerca da
responsabilidade que nos cabe para com os recursos naturais que nos foram
concedidos por empréstimo, quando da criação do planeta. Afinal, a perspectiva ecológica está contida
nas leis naturais e alcança uma dimensão moral de grande amplitude, de maneira
que a mãe Terra nos responderá no grau adequado à forma com que agimos em
relação a ela.
A ambição humana em busca da maximização de lucros cada vez maiores coloca a natureza na condição de produto descartável ou como mera fonte de produção, necessária ao alcance de desenvolvimento tecnológico.
Certamente o desenvolvimento científico do homem está previsto na lei do progresso, não podemos contestar. Entretanto, é necessário também nos harmonizarmos espiritualmente com o ecossistema em que vivemos a fim de garantir o equilíbrio ecológico da Terra.
Adverte-nos o insigne Codificador acerca das nossas necessidades em O Livro dos Espíritos²:
Por que nem sempre a terra produz bastante para fornecer ao homem o necessário?
É
que, ingrato, o homem a despreza! Ela, no entanto, é excelente mãe. Muitas
vezes, também, ele acusa a Natureza do que só é resultado da sua imperícia ou
da sua imprevidência. A terra produziria sempre o necessário, se com o
necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta a
todas as necessidades, é que ele emprega no supérfluo o que poderia ser
aplicado no necessário. Olha o árabe no deserto. Acha sempre de que viver,
porque não cria para si necessidades factícias. Desde que haja desperdiçado a
metade dos produtos em satisfazer a fantasias, que motivos tem o homem para se
espantar de nada encontrar no dia seguinte e para se queixar de estar
desprovido de tudo, quando chegam os dias de penúria? Em verdade vos digo,
imprevidente não é a Natureza, é o homem, que não sabe regrar o seu viver.
Nesse
sentido, a poluição devastadora deixa rastros assustadores, não apenas a
decorrente do detritos descartáveis lançados em rios e mares, responsáveis pela
destruição da flora e da fauna nesses ecossistemas, mas também as poluições
sonora e atmosférica. Acerca desta última, enfrentamos o fracasso do Protocolo
de Kyoto que, embora não tenha sido inócuo, pois trouxe uma contribuição
considerável, especialmente ao continente Europeu, não foi eficiente na redução
das emissões mundiais de gases-estufa³.
Paralelo a esse cenário, passa despercebido de muitos a poluição mental, a qual interfere no equilíbrio moral e, consequentemente, altera a psicosfera do Planeta. Nossa psicosfera é oriunda de mentes em desequilíbrio que alimentam desejos escusos e comportamentos mentais indescritíveis, que exprimem todo tipo de mazela moral saturando, assim, a nossa atmosfera psíquica de miasmas deletérios, produtos de emanações mentais que se dão em conluio com mentes desorganizadas do plano inferior.
A Terra é a nossa casa, e nossa relação com o meio ambiente deve ser de proteção e cuidado, a natureza nos cobra, em decorrência de cada evento ocorrido em seu seio, uma postura de gratidão e respeito.
Assim como nossa saúde física é recorrentemente ameaçada pela água e pelos alimentos, ambos contaminados por uma imensa variedade de produtos tóxicos, a nossa saúde espiritual clama por um comportamento equilibrado, pautado por uma espiritualidade que desperte em nós o desejo de cuidar do Planeta.
Precisamos caminhar em busca do desenvolvimento da consciência ecológica que permita avançarmos no grande processo de transição, reverenciando sempre a grandeza de Deus. “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos4”
Referências bibliográficas:
1- KARDEC,
Allan. A Gênese. 83ª ed.: Rio de
Janeiro, FEB. Q. 705, p. 416.
2- KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. 83ª ed.: Rio de Janeiro, FEB. Q. 705, p. 416.
3- http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2015/02/1590476-dez-anos-depois-protocolo-de-kyoto-falhou-em-reduzir-emissoes-mundiais.shtml.
Acessado em 20/5/2018.
4- Salmo
19:1