sábado, 16 de julho de 2016

O ESPÍRITA EM MEIO À CRISE

Por Warwick Mota


O Livro dos Espíritos é pródigo na firmeza e na profundidade dos seus ensinamentos, e, não raro, revisitamo-lo, na busca do entendimento sobre os mais variados temas. Acerca das crises morais coletivas, oriundas das conjurações políticas que parecem retardar a marcha do progresso das nações terrenas, também buscamo-lo. Não poderia ser diferente.

O Codificador, atento ao comportamento sócioemocional humano ainda imaturo, examina a Lei do Progresso sob variados contextos e questiona à Espiritualidade se os limites da ação direta do homem poderiam se consubstanciar em uma possível capacidade que este teria de retardar a ação da referida Lei. É o que indaga, na questão 781, da obra (1): “É permitido ao homem deter a marcha do progresso?”

Ao que os Espíritos respondem, sem tergiversar: “Não, mas pode entravá-la algumas vezes.”

É de conhecimento comum que, no presente momento, em nosso país, vivemos aparente situação de fragilidade social e política: o povo e as instituições sofrem arremetidas em diferentes níveis, morais e materiais. A todo instante são divulgadas afrontas, denúncias, traições, desconstruções sociais ou políticas, algumas tenazes, e nós, os espíritas, muitas vezes nos deixamos contaminar pelo clima de incerteza angustiosa que ameaça pairar por sobre o céu da Pátria.

É que, como não poderia mesmo ser diferente, atenta à fragilidade da nossa guarda moral, também a espiritualidade menos feliz age, alimentando, de diversas formas, o pessimismo que viceja nos corações descuidados e lançando sugestões que, muitas vezes, são abraçadas e disseminadas por indivíduos despreparados, na forma de ações incautas ou boatos apocalípticos que anunciam tragédias irreais, muitas das quais jamais passíveis de realmente virem a se concretizar.

Uma das recentes façanhas desses chamados disseminadores de hoax, que, lamentavelmente, pululam nas redes sociais, traduziu-se na falsa divulgação de que o médium baiano Divaldo Pereira Franco teria anunciado uma previsão de guerra civil, face às dificuldades políticas e econômicas que o Brasil atravessa. Pura falácia. Boato pueril, para quem sabe da trajetória correta e idônea do médium, mas que pode assustar a quem não conhece verdadeiramente a Doutrina Espírita.
É necessário esclarecermos que a mediunidade séria, vivida com Jesus, não será nunca veículo de propagação de absurdos indébitos, tampouco estará a serviço de espíritos zombeteiros, que se comprazem no estado de apavoramento a que mentes ingênuas deixam-se levar, aumentando ainda mais o estado de tensão no cenário social e levando pânico e terror aos corações atordoados.
Certamente reconhecemos que ações políticas mal encaminhadas, sejam ou não mal intencionadas, podem embaraçar a marcha do progresso das nações, mas também havemos de reconhecer que, em tempos de iniqüidades, a recomendação aos trabalhadores que se esmeram no Bem é de que perseverem servindo.
Não se entregar ao desespero, mas, ao contrário, seguir, na medida do possível, orando, esclarecendo, pacificando e amparando é dever de todos os que nos candidatamos à Seara de Jesus. Foi a isso que o Mestre convidou-nos, quando, à pessoa do pescador de Cafarnaum, rogou, solícito: “Pedro, apascenta minhas ovelhas”(2).
Quando Jesus convida-nos a apaziguarmos os ânimos das ovelhas aguerridas, é porque sabia que cenários futuros seriam de embates, sem trégua.
Não há porque nos desesperarmos, mesmo quando o contexto do nosso país pareça de desencanto e tristeza:
 “... todas as fórmulas humanas, dentro das concepções que exprimam, por mais elevadas que se afigurem, são perecíveis e transitórias. A política sofrerá, no curso dos séculos, as alternativas do direito e da força e da força do direito, até que o planeta possa atingir relativa perfeição social” (3).
Dessa forma, perseverar no bem, não descrer, ainda quando muitos estiverem descrentes, seguir com fé, mesmo quando muitos intentem desistir, é dever de todo espírita cristão.
Em momentos de dificuldades, o desânimo tende a afastar do labor da caridade aqueles que ainda não estruturaram fortemente sua fé. Acerca desses dias de transição, “a caridade de muitos esfriará” (4), já nos advertia o Divino Amigo, há mais de dois milênios.

A nós, que dispomos da fé alicerçada no raciocínio, que dispomos da bússola que é a Doutrina dos Espíritos, não cabem o medo, nem o desequilíbrio, tampouco a intemperança no agir, no pensar, no aguardar dos fatos. Os tempos são de transição, mas o servo equipado não há de temer as tempestades que, temporariamente, obstruam-lhe o caminho.                   

Crises políticas, derrocadas de instituições falíveis, desestruturações de entidades outrora críveis, tudo isso passará, porquanto a transitoriedade é uma das características que marcam os mundos de provas e expiações, onde também os sofrimentos não têm caráter definitivo.

Mesmo que o cenário nacional, no dia de hoje, pareça-nos adverso, apliquemos um tanto mais de paciência e trabalho, únicos lenitivos possíveis de modificarem, de maneira decisiva, um panorama que se faz negativo.

Ainda que assim o digam, o momento não é de desespero, mas de construção de dias melhores.

Sintetizado na confiança expressa do sempre presente Bezerra de Menezes, para todo brasileiro, este, sim, “é um momento de siso, de decisões, para a paz no período do porvir” (5).

Publicado na revista Reformador - julho/2016
http://www.loja.souleitorespirita.com.br/

Referências:

1)    KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Ed. Especial. Rio de Janeiro: FEB, 2007, p. 473

2)    João, 21:17

3)    XAVIER, Francisco Cândido (Pelo Espírito Humberto de Campos). Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho. 34ª. ed., Brasília: FEB, 2013, p.186.

4)    Mateus, 24:12

5)    Momento decisivo. Bezerra de Menezes. Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, disponível em http://www.febnet.org.br/blog/geral/noticias/momento-decisivo-2/. Acesso em 22 de março de 2016.

NOSSA CONDIÇÃO ESPIRITUAL

Por Warwick Mota

Este tema é muito importante: preocupamo-nos constantemente com a nossa condição material, física...

Precisamos nos preocupar, também, com a nossa condição espiritual.

A Espiritualidade sempre nos propõe a reflexão sobre o tema.

Muitas vezes, quando nos propomos um projeto de vida, desistimos logo no início, quando esse projeto requer mudança íntima, de atitude.

São sempre a comodidade à rotina e o desânimo que nos fazem estacionar, apesar de tantas capacidades que temos, de avançar...

Por que será que não mantemos, nessas decisões, a perseverança?!

É assertiva do Cristo: “aquele que perseverar até o fim será salvo...” (1).

Jesus quer nos dizer que a perseverança deve ser, para nós, um alvo.

Se não colocarmos a perseverança como meta, nossa caridade tenderá a se esfriar e, de repente, o que antes era desejo ardoroso perde-se em meio a tantos nadas do dia a dia.

Há algum tempo, vi um grupo de amigos fundar uma casa espírita.

Um colaborador queria começar todas as atividades, de imediato: estava na recepção, também na livraria, cuidava do estudo, não saía mais do centro. De domingo a domingo estava no labor, sem parar...

Passou o tempo.

Após assumir muitos compromissos, de repente ele desapareceu.

Sumiu de todos os trabalhos.

Um dia, eu ia andando por uma avenida, na cidade, e o encontrei.

Perguntei o que tinha acontecido, porque ele havia sumido das tarefas naquela casa, e então ele me respondeu: - me cansei de tanto trabalho, agora eu sou espírita freelancer!...

Assim disse para me explicar que, agora, quando queria, fazia alguma atividade em alguma casa espírita, aqui ou ali...

E só. Sem compromisso.

Lamentei.

Não podemos deixar a caridade, no nosso coração, esfriar...

Isso denota falta de perseverança diante das tarefas.

E, manter perseverança, dá também conta da nossa condição espiritual.

Perseverança é firmeza, constância nos propósitos. É seguirmos adiante, para além das dificuldades, sem desistirmos.

Na nossa vida, encontramos obstáculos, todos os dias.

Aqui, é a dificuldade que se faz presente.

Mais ali, nos falta a fé...

Mais um pouco e nos envergonhamos do nosso pouco desenvolvimento espiritual e, pior, nos retraímos diante das tarefas apresentadas, achando-nos pequenos demais...

Precisamos nos encorajar, apesar da condição espiritual em que nos encontramos.

Na verdade, os apóstolos que Jesus escolheu também titubearam em alguns instantes.

Vejamos o episódio da barca (2).

Jesus dormia. Começou a tempestade. Os discípulos se apavoraram:

- Mestre, nós vamos morrer e tu dormes?!

Vejamos a insegurança neles...

...E era Jesus quem estava ali!

 Jesus, que ultrapassa, sem limites, a condição espiritual de todos os habitantes do planeta!

Na verdade, não temos nem condições de avaliar o quilate espiritual do Mestre.

Apenas sabemos que, em nossa humilde condição, devemos segui-lo...

E seguimo-lo porque são os Espíritos quem nos falam, em resposta a Kardec (3), que Ele é o modelo mais perfeito e puro que já pisou a Terra.

Então, para nosso modelo de condição espiritual a ser alcançada, Jesus é a referência.

A pergunta que temos de sempre fazer é: em que condição espiritual vamos, desta vez, retornar à Espiritualidade, de onde saímos um dia, cheios de promessas?

Qual é o lastro que levaremos conosco?

Numa alegoria, podemos dizer que, na Contabilidade Divina, nosso ativo serão sempre as aquisições de ordem moral.

Essas, na hora do desencarne, apresentam-se com liquidez imediata!

Falam de nós, dão conta de nós.

Apenas elas.

Então o natural é cobrarmos de nós, que já estamos na Doutrina, um arquivo de obras do bem realmente feitas.

E o que não é natural é deixarmos que os pequenos empecilhos, onde a gente também escorrega, façam-nos estacionar no erro...

A proposta da Doutrina Espírita, para nós, é uma proposta de auto-responsabilização, sem a culpa que desestrutura o psiquismo.

A responsabilização, ao contrário, eleva-nos, nos dá renovada estatura moral, porque nos mostra que podemos refazer os nossos caminhos, não como vítimas de nós mesmos, mas como pessoas que têm a grandeza de recomeçar.

E, então, seremos perseverantes diante das transformações necessárias.

A gente não olha o espelho do rosto?

Precisamos também auscultar a alma!

Não temos tantos projetos de vida?...

Temos de ter projetos espirituais também!

Precisamos ser protagonistas de nossa própria transformação espiritual.

Ninguém contrata um arquiteto, um profissional de obras, e fica do lado de fora da residência, esperando que os outros façam as transformações desejadas, sem opinar, sem explicar, sem participar da reforma...

Da mesma forma, para alterarmos a nossa condição espiritual, precisamos olhar para nós mesmos, reconhecendo nossos defeitos, nossas dificuldades, e, também, exaltar alguma virtude de que sejamos portadores, para avançarmos.

Sem autoavaliação, não é possível construir-se nada...

O que precisamos nos lembrar é que somos herdeiros de nossas próprias conquistas, porque somos responsáveis por elas.

E podemos alterar nossa trajetória espiritual, porque, aprendemos, não há engessamento na lei de causa e efeito.

Sejamos perseverantes.

Não podemos deixar que pequenos desencantos nos façam desistir.

Se deixarmos esfriar o ímpeto para o trabalho, para o bem, vamos deixar de agir em prol do próximo e, naturalmente, estaremos deixando de fazer por nós mesmos.

Cabe ao espírita caminhar decidido, com perseverança.


Continuar seguindo, com a consciência lúcida, amadurecida, sem se desesperar ante as pequenas dificuldades.

O que é importante lembrarmos é que a condição que chegaremos ao plano espiritual e às próximas vidas está sendo definida agora. 

Publicado no jornal O Clarim julho/2016
https://www.oclarim.org/oclarim/2016/Julho/318/jornal-o-clarim.html

Referências:
1)      Mateus, 24: 24
2)      Marcos, 4: 38
3)      KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83ª. ed.: Rio de Janeiro, FEB. q. 625, p. 308.

ECOLOGIA E ESPIRITISMO

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