O
Livro dos Espíritos é pródigo na firmeza e na profundidade dos seus
ensinamentos, e, não raro, revisitamo-lo, na busca do entendimento sobre os
mais variados temas. Acerca das crises morais coletivas, oriundas das
conjurações políticas que parecem retardar a marcha do progresso das nações
terrenas, também buscamo-lo. Não poderia ser diferente.
O
Codificador, atento ao comportamento sócioemocional humano ainda imaturo,
examina a Lei do Progresso sob variados contextos e questiona à Espiritualidade
se os limites da ação direta do homem poderiam se consubstanciar em uma
possível capacidade que este teria de retardar a ação da referida Lei. É o que
indaga, na questão 781, da obra (1): “É permitido ao homem deter a marcha do
progresso?”
Ao
que os Espíritos respondem, sem tergiversar: “Não, mas pode entravá-la algumas
vezes.”
É
de conhecimento comum que, no presente momento, em nosso país, vivemos aparente
situação de fragilidade social e política: o povo e as instituições sofrem
arremetidas em diferentes níveis, morais e materiais. A todo instante são
divulgadas afrontas, denúncias, traições, desconstruções sociais ou políticas, algumas
tenazes, e nós, os espíritas, muitas vezes nos deixamos contaminar pelo clima
de incerteza angustiosa que ameaça pairar por sobre o céu da Pátria.
É
que, como não poderia mesmo ser diferente, atenta à fragilidade da nossa guarda
moral, também a espiritualidade menos feliz age, alimentando, de diversas
formas, o pessimismo que viceja nos corações descuidados e lançando sugestões
que, muitas vezes, são abraçadas e disseminadas por indivíduos despreparados,
na forma de ações incautas ou boatos apocalípticos que anunciam tragédias
irreais, muitas das quais jamais passíveis de realmente virem a se concretizar.
Uma das recentes façanhas desses
chamados disseminadores de hoax, que,
lamentavelmente, pululam nas redes sociais, traduziu-se na falsa divulgação de que
o médium baiano Divaldo Pereira Franco teria anunciado uma previsão de guerra
civil, face às dificuldades políticas e econômicas que o Brasil atravessa. Pura
falácia. Boato pueril, para quem sabe da trajetória correta e idônea do médium,
mas que pode assustar a quem não conhece verdadeiramente a Doutrina Espírita.
É necessário esclarecermos
que a mediunidade séria, vivida com Jesus, não será nunca veículo de propagação
de absurdos indébitos, tampouco estará a serviço de espíritos zombeteiros, que
se comprazem no estado de apavoramento a que mentes ingênuas deixam-se levar, aumentando
ainda mais o estado de tensão no cenário social e levando pânico e terror aos corações
atordoados.
Certamente reconhecemos que
ações políticas mal encaminhadas, sejam ou não mal intencionadas, podem
embaraçar a marcha do progresso das nações, mas também havemos de reconhecer que,
em tempos de iniqüidades, a recomendação aos trabalhadores que se esmeram no
Bem é de que perseverem servindo.
Não se entregar ao
desespero, mas, ao contrário, seguir, na medida do possível, orando,
esclarecendo, pacificando e amparando é dever de todos os que nos candidatamos
à Seara de Jesus. Foi a isso que o Mestre convidou-nos, quando, à pessoa do pescador
de Cafarnaum, rogou, solícito: “Pedro, apascenta minhas ovelhas”(2).
Quando Jesus convida-nos a
apaziguarmos os ânimos das ovelhas aguerridas, é porque sabia que cenários
futuros seriam de embates, sem trégua.
Não há porque nos
desesperarmos, mesmo quando o contexto do nosso país pareça de desencanto e
tristeza:
“... todas as fórmulas humanas, dentro das
concepções que exprimam, por mais elevadas que se afigurem, são perecíveis e
transitórias. A política sofrerá, no curso dos séculos, as alternativas do
direito e da força e da força do direito, até que o planeta possa atingir
relativa perfeição social” (3).
Dessa forma, perseverar no
bem, não descrer, ainda quando muitos estiverem descrentes, seguir com fé, mesmo
quando muitos intentem desistir, é dever de todo espírita cristão.
Em
momentos de dificuldades, o desânimo tende a afastar do labor da caridade aqueles
que ainda não estruturaram fortemente sua fé. Acerca desses dias de transição,
“a caridade de muitos esfriará” (4), já nos advertia o Divino Amigo, há mais de
dois milênios.
A
nós, que dispomos da fé alicerçada no raciocínio, que dispomos da bússola que é
a Doutrina dos Espíritos, não cabem o medo, nem o desequilíbrio, tampouco a
intemperança no agir, no pensar, no aguardar dos fatos. Os tempos são de
transição, mas o servo equipado não há de temer as tempestades que,
temporariamente, obstruam-lhe o caminho.
Crises
políticas, derrocadas de instituições falíveis, desestruturações de entidades
outrora críveis, tudo isso passará, porquanto a transitoriedade é uma das
características que marcam os mundos de provas e expiações, onde também os
sofrimentos não têm caráter definitivo.
Mesmo
que o cenário nacional, no dia de hoje, pareça-nos adverso, apliquemos um tanto
mais de paciência e trabalho, únicos lenitivos possíveis de modificarem, de
maneira decisiva, um panorama que se faz negativo.
Ainda
que assim o digam, o momento não é de desespero, mas de construção de dias
melhores.
Sintetizado
na confiança expressa do sempre presente Bezerra de Menezes, para todo
brasileiro, este, sim, “é um momento de siso, de decisões, para a paz no
período do porvir” (5).
Publicado na revista Reformador - julho/2016
http://www.loja.souleitorespirita.com.br/
Referências:
1)
KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. Ed. Especial. Rio de Janeiro: FEB, 2007, p. 473
2) João, 21:17
3)
XAVIER,
Francisco Cândido (Pelo Espírito Humberto de Campos). Brasil, coração do mundo,
pátria do Evangelho. 34ª. ed., Brasília: FEB, 2013, p.186.
4) Mateus, 24:12
5) Momento decisivo. Bezerra de Menezes. Mensagem psicofônica
recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, disponível em http://www.febnet.org.br/blog/geral/noticias/momento-decisivo-2/.
Acesso em 22 de março de 2016.