sexta-feira, 11 de novembro de 2016

ANTES QUE VENHA O ARRASTÃO

Por Warwick Mota


A edição do Reformador, de junho de 2004, trouxe esse sugestivo título, de autoria de Richard Simonetti (1).

O articulista, no órgão de divulgação da FEB, fez alusão à pescaria com o uso de redes. Nessa forma de pescaria, após jogarem a rede ao mar, em determinado espaço de tempo, os pescadores arrastam-na até a praia, para, dali, retirarem os peixes destinados à venda, à alimentação ou à volta ao mar, por inadequados.

O levante da tarrafa à praia para a seleção dos peixes é chamado de arrastão.  

E, no entanto, pelas palavras de Jesus, temos aprendido que “o reino dos céus é semelhante a uma rende lançada ao mar...” (2).

Quando um pescador lança sua rede ao mar, da volta ele aguarda todo tipo de peixe...

Também o projeto divino, executado pela Espiritualidade, é para toda criatura que habita o universo.

Da mesma forma, na Terra, o ensino de Jesus veio para todos os seres humanos, para todos os Espíritos, encarnados ou não, ocupantes de todas as escalas, pedagogicamente organizadas pelo Codificador, em O Livro dos Espíritos (3).

Observemos que, no caso da pescaria, como atividade humana, antes do arrastão, há um período temporal, para que os peixes entrem nas malhas, que lhe são proporcionais aos portes. Quando a rede está pronta, puxam-na até a praia.

Conosco ocorre também o mesmo...

Espíritos em processo de desenvolvimento, em alguns momentos de nossa trajetória, todos seremos convidados à praia da vida, para a apuração de nosso próprio desenvolvimento.

O tempo que o pescador aguarda, para arrastar sua rede até a praia, pode ser comparado ao tempo concedido à população de cada orbe, para que se ajuste ao desenvolvimento necessário ao ascender da vida.

Dado o tempo, o pescador arrasta a tarrafa.

Passado certo tempo, contado aos milênios, um planeta também precisa ascender na escala dos mundos. Nesse momento, então, nas malhas da própria consciência, cada ser humano responde, na praia da própria existência, por si mesmo e por sua adequação ou não para estar no novo estágio que advirá, ao planeta onde se encontra.

Vejamos que Jesus fez suas comparações em termos simples, para que todos o entendessem.

A separação do joio e do trigo é uma referência clara ao tempo de transição planetária. Crescidos lado a lado, dois homens assim estarão, até que, esgotado o tempo possível a essa convivência, sofrível para um, talvez desperdiçada pelo outro, então eles serão separados pelas moradas planetárias, porque, se o planeta dá um salto em termos de moralidade, é porque seus habitantes estão espelhando isso.

E aquele habitante que não se coaduna com essa realidade, a nova casa planetária certamente deverá ser encaminhado.

Fato é que, nos dias de hoje, muitos de nós apresentamos elevado nível técnico, mas não temos o mesmo nível moral.

Então este é o momento de buscarmos valores morais para o nosso Espírito, porque temos andado desatentos. Absolutamente desatentos.

Dessa forma, antes que venha o arrastão para a Terra, façamos um paralelo, um exercício, entre os ensinamentos de Jesus, que devem nos empolgar, e nossa verdadeira prática!

É preciso aferir se, realmente, temos aprendido o que temos ouvido.

De nada adianta muito sabermos se, moralmente, não saímos do lugar.

O momento de transição planetária é certamente o momento de a Espiritualidade olhar para muitos de nós e perguntar: “Como classificar o aluno que estuda indefinidamente, sem jamais aprender?!”

Não podemos ser crianças espirituais eternas!

A nós, espíritas, em especial, não nos é dado alegar desconhecimento de verdade espiritual alguma, porquanto os ensinamentos nos são apresentados a todo instante. Precisamos viver em conformidade com o que apregoamos, seja no lar, no ambiente profissional, no próprio templo espírita.

Não queiramos que, acerca de nós, em especial, nesses momentos de transição, a Espiritualidade tenha de se perguntar: “Como classificar o homem que prega, sem jamais experimentar?!...”

Se jamais experimentamos o que dizemos, seja em favor de nós mesmos, seja em benefício do próximo, na assistência social, nas esferas da caridade, na via mediúnica, como seremos classificados, na separação do trigo bom e do joio ruim?!

Este é o momento de colocarmos em prática, de maneira estreita, tudo o que já temos aprendido.

Nem precisamos mais falar que este é o momento definitivo da opção pela vida reta, iluminada pelas oportunidades de estudo e de trabalho.

Antes que venha o arrastão na Terra, aprimoremos nossa asa moral, para não termos de retornar a orbes primitivos, de onde já saímos um dia.

Antes que seja passada a rede planetária, que já acontece num processo natural, sem data definida, preparemo-nos para estarmos em bons cestos, como o trigo bom, jamais em cestos menos felizes ainda, com maiores dificuldades do que aquelas que todos já temos enfrentado.

Não há dia marcado para a separação dos peixes arrastados à praia. Disso não precisamos ter medo algum, mas sabemos que o momento é de oportunidade para mudarmos hábitos menos felizes.

Especialmente nós, os espíritas, temos de enfrentar nossa obrigação de burilar nosso aspecto moral, de reconhecermos nossos defeitos, de trabalharmos nossos erros e buscarmos, em Jesus, nossas reflexões e nossa autoeducação.

Isso, antes que venha o arrastão.

Publicado na RIE/nov-2016
Referências:
1)    Reformador. Antes que venha o arrastão. Artigo de Richard Simonetti. Junho 2004, p. 216 (encadernação). Disponível em http://www.sistemas.febnet.org.br/acervo/revistas/2004/WebSearch/page.php?pagina=201. Acesso em 17 de abril de 2016.
2)    Mateus, 13:47.
3)    KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 83ª. ed., 2002, questão 100.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

TRABALHANDO HABITOS

Por Warwick Mota


De uma mensagem (1), psicografada por Francisco Cândido Xavier, sob a qual o Espírito autor não se identificou, retiremos pequeno trecho:
A Mente é meu Lar. O Coração é meu Templo. (...)

O Amor é minha Lei. (...)

A Experiência é minha Escola. (...).

A Perfeição é meu Destino.

Desse belo poema, se empreendermos minucioso exame, poderemos dimensionar a questão da evolução, em seus diversos aspectos.
Analisando essa mensagem, observamos que hábito e destino interagem profundamente, pois é na rotina estabelecida que traçamos o nosso futuro.
O hábito predispõe aos costumes, que, sendo salubres ou insalubres, anunciam o nosso destino.
Triste é que, em nosso atual estágio evolutivo, nossos hábitos têm sido, a mais das vezes, insalubres.
Mas, no princípio não era assim...
Como sabemos, fomos criados simples, ignorantes, sem qualquer saber (2).
Em nossa simplicidade inicial, não apresentávamos maus hábitos, pois nosso primeiro estágio era em contato com o mundo natural.
É no avançar como Espíritos que vamos fazendo nossas escolhas.
E nosso livre arbítrio vai sempre nos permitir as boas ou más escolhas.
Vai nos possibilitar tomar as boas ou más atitudes. Assumir, diante da vida, bons ou maus hábitos.
Lamentavelmente, vamos adicionando, à vontade, a paixão, que é o excesso em tudo.
É a paixão que nos traz o sentimento de posse, que avança até a nossa relação com as pessoas, para além de coisas.
É esse excesso no sentir que nos induz ao apego a tudo.
Aí entendemos que o desejo de possuir, quando descontrolado, pode nos levar à insanidade, a ponto de deixarmos de lado nosso crescimento moral, somente para buscarmos, nos bens materiais, a loucura da satisfação de desejos egoísticos.
O excesso, que colocamos na vontade, traduz-se em apego, revelando a faceta humana mais cruel: nossa postura egocêntrica e egoísta de viver.
É certo: dentre as dificuldades que encontramos, quando encarnados, o egoísmo é o defeito mais difícil de ser combatido, em função de que esse sentimento, tão atrasado, imanta o Espírito diretamente à matéria.
É o egoísmo uma doença moral que o homem carrega consigo há milênios.
Demonstração dessa ênfase à matéria, em detrimento do que é espiritual, aparece, muito claramente, quando Pilatos pergunta, a Jesus, se ele era rei... (3).
Diante do Cristo, a alma mais elevada que já pisou sobre a Terra, Pilatos simplesmente se apega a questões materiais, temporais...
- Tu és rei?
Ele pergunta.
E o Mestre volta-se a explicar a ele que o reino dele não é deste mundo...
A questão é que, na verdade, o que é espiritual, em nossos hábitos arragaidos ao que é transitório, temos deixado de lado.
E, sempre, vimos nos ligando à matéria, colocando-a como elemento substancial, esquecendo-nos do que é verdadeiramente essencial à vida.
Maus hábitos somente serão verdadeiramente combatidos com a ferramenta chamada reforma íntima, reforma interior.
Somente conseguiremos chegar bem à vida futura, quando conseguirmos usar bem essa ferramenta.
Temos vindo, até agora, como embarcações frouxas, ao gosto da correnteza dos hábitos.
Vimos seguindo, em encarnações sucessivas, num reiterado processo de viciação.
De fato: são vários hábitos, manias, vícios e apegos que nos prendem a situações, coisas ou pessoas e nos impedem de nos avançarmos em termos evolutivos. Por exemplo: o hábito de falar demais, num processo de interlocução, onde o outro não consegue falar;
ou o vício de consumir excessivamente, para compensar outras dificuldades; ou a mania de se lamentar de tudo e de todos, vitimizando-se, para chamar a atenção dos outros.
Nosso atraso evolutivo está patente também no hábito de se achar sempre certo. Ou no péssimo hábito de querer dar sempre a última palavra.
Ou, ainda, na mania de grandeza de achar que os outros têm sempre de vir até nós, quando Jesus não nos ensinou assim...
Todos esses problemas compõem um arcabouço de dificuldades morais traduzidas em hábitos perniciosos, que precisam ser combatidos, mesmo quando se manifestam em clichês arrogantes, com os quais nos acostumamos – como o que diz “eu não levo desaforo para casa” - tanto quanto se manifestam nas próprias atitudes intoleráveis, como a do tirano doméstico, detestado entre os seus.
Estão nossos maus hábitos arraigados apresentando-se também no trânsito, na via pública, quando achamos que só nós temos compromissos importantes, e não deixamos o outro passar, nem entrar na nossa frente, e reclamamos quando temos de parar, seja no sinal, seja para o pedestre, seja num cruzamento.
Precisamos ver que os maus hábitos, ao final, sempre nos colocam em situações de sofrimento, seja conosco mesmos, porque nos percebemos estagnados, quando poderíamos estar avançando, seja na relação com os demais, porque acabamos ferindo ou magoando muitas vezes até mesmo quem mais amamos.
Para combatermos os vícios que ainda carregamos, precisamos de coragem.
Um bom começo é reconhecermos o que ainda vive em nós e que sentimos.
É arrogância, esse sentimento que se aloja em nosso íntimo?
É egoísmo, o que estamos sentindo?
Isso que nos invade neste instante, seria prepotência?
Talvez ciúme?
Esse tipo de autoconhecimento, quando sinceramente buscado, vai nos ajudar a trabalhar nossas emoções, nossos sentimentos malbaratados, nossos hábitos e costumes maus.
Estamos mascarando quais sentimentos reais, por trás das nossas atitudes?
Para tomarmos a paz que Jesus nos deixa, precisamos nos conhecer!...
Para recebermos o legado que Jesus nos oferece, é preciso estarmos num caminho de transformação.
Nossas dificuldades exteriorizam-se através dos hábitos ruins. Isso é inegável.
Estão nas ironias, no senso de superioridade, na não responsabilização diante dos erros, no fanatismo.
Só conseguiremos superar tudo isso, se buscarmos o exemplo do Cristo e nos decidirmos a segui-lo.
Só assim conseguiremos iniciar relações simbióticas, em patamares verdadeiros, porque as mudanças surgem de dentro para fora, não o contrário. Mesmo que ocorram lentamente.
É de pensarmos: já que o outro é meu espelho, se eu me tornar passível de ter bons hábitos e atitudes, receberei isso do meu igual!...
Um bom início é deixarmos florir, em nós, o amor.
E, se esse processo for vagaroso, não importa: “A Perfeição é meu Destino” (4).

Publicado no Reformador nov/2016 - http://www.souleitorespirita.com.br/reformador/

Referências:

1)    XAVIER, Francisco Cândido, citado por ABRANCHES, Carlos Augusto. (Por: O Espírito). Vozes do Espírito. Rio de Janeiro: FEB, 1997, 2ª. ed. p. 23.

2)    KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1991, 71ª. ed., p. 95.

3)    João, 18:37.

4)    XAVIER, Francisco Cândido, citado por ABRANCHES, Carlos Augusto. (Por: O Espírito). Vozes do Espírito. Rio de Janeiro: FEB, 1997, 2ª. ed. p. 23.

ECOLOGIA E ESPIRITISMO

Por Warwick Mota    Vivenciamos na atualidade o limiar de uma grande transição: eventos sociais e físicos eclodem em todo o planeta demonstr...