segunda-feira, 4 de setembro de 2017

TEMPERAMENTOS E COMPORTAMENTOS



Por Warwick Mota

       Em O Evangelho segundo o Espiritismo, o Espírito Hahnemann faz-nos o seguinte alerta, bastante significativo, acerca do nosso comportamento na Terra: “O corpo não dá cólera àquele que não na tem, do mesmo modo que não dá os outros vícios” (1). Exatamente aquele que foi, em vida, considerado “o pai da Homeopatia”, Samuel Hahnemann retorna, como Espírito, para nos desvelar a submissão da matéria, na comparação com aquilo que é espiritual.
Ou seja: a Doutrina Espírita vem revelar que, no centro de todas as manifestações, está o Espírito.
No entanto, por suas persistentes fraquezas, por seu comportamento indômito, pelo temperamento indomado, o homem muitas vezes tenta, em vão, atribuir a culpa dos seus erros à matéria, buscando também, equivocadamente, adquirir a suposta remissão por meio do sofrimento físico, associando sofrimento físico a redenção.
Trata-se de ênfase dada à matéria de maneira equivocada, conquanto também possa ser traduzida em oportunidade para reflexão.
Imaginemos um indivíduo que tenha cometido um erro grave, como o adultério.
É permitido a esse ser humano atribuir a culpabilidade de seu erro à linhagem genética de onde proveio?
Logicamente que isso soa até pueril, pois não são os caracteres genéticos que induzem uma pessoa ao erro, mas sua condição moral. Nossos erros não provêm de dada condição orgânica, nem nosso temperamento.
Inclusive porque, de maneira positivada, o que às vezes pode ser geneticamente explicado nem sempre poderá ser moralmente aceito: a ninguém é dado alegar que tem um gênio difícil, simplesmente porque herdou essa condição infeliz dos genitores.
Em nosso processo educativo espiritual, o aspecto emocional vai sendo, pouco a pouco, modulado, na usina das relações sociais, nas oportunidades de intercâmbio, nas reencarnações, na troca do amor, na troca dos sentimentos.
Assim também é que o temperamento humano bilioso cede, a partir da caminhada evolutiva, dando lugar a pessoas compreensivas, fleumáticas e de índoles mais pacíficas.
Todo esse processo não acontece num átimo, do dia para a noite, é certo. Desenrola-se ao longo de várias reencarnações.
Partimos de reações estapafúrdias, eivadas de ira, ciúme, e de vários sentimentos exacerbados, animalizados, para a noção do dever corretamente cumprido e da conduta socialmente aceita.
O importante é reconhecermos as dificuldades das nossas emoções deseducadas, do temperamento difícil que apresentamos, para a convivência social, e aceitarmos que precisamos nos modificar.
O que não dá é para aceitarmos, como verdade, para nós, o que, curiosamente, ouve-se chamar da “síndrome da Gabriela”, a personagem que parece, na canção, não estar disposta a alterar suas atitudes: “eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim...” (2).
O que também não é possível é buscar-se ocultar a dificuldade moral em presumível condição orgânica, falácia que, ao espírita, já não cabe, porquanto sabemos que o pensamento é o nosso motor atitudinal.
Somos guiados pelos nossos pensamentos, que devem ser educados a partir da nossa própria sanção moral amadurecida.
Pensamento educado impede-nos de exteriorizar atos e comportamentos errôneos, e, ainda mais, de nos consorciarmos, por questões de sintonia, com a espiritualidade menos feliz, o que sempre capitaliza maus pendores.
É a partir da educação dos nossos sentimentos e pensamentos que nos tornamos capazes de cercear os excessos, quer estes se traduzam no temperamento detestável, quer se traduzam nas atitudes cotidianas indesejáveis.
Não é a matéria que define nosso comportamento, mas, na verdade, são nossos vícios ou virtudes morais que determinam nossa conduta, no campo físico.
Viciamo-nos em atitudes violentas, em temperamentos coléricos que ainda nos remetem a nossa estrutura ancestral primitiva, mas essas atitudes intempestivas precisam ser domadas em nós, que já guardamos algum conhecimento espiritual, porque conhecimento também traz consigo a responsabilidade da mudança para melhor.
Se é para se afirmar que se herdou algo dos ancestrais, que se busque o que eles tiveram ou manifestaram de melhor: se tinham valores, se respeitavam a vida, herdemos essas características imaterias, intangíveis, mas substanciais para a evolução planetária.
Quando damos espaço para temperamentos virulentos, para comportamentos agressivos, para atitudes insanas, estamos dando mostras de que a noção de amor ao próximo, perfeitamente exemplificada por Jesus, ainda não está sedimentada em nosso coração, ou, talvez, sequer tenha chegado a ele.
A lição do Mestre é uma lição de paz.
Vejamos que até a atuação de Pedro, quando ele toma da espada e decepa a orelha do soldado, assim agindo para proteger o seu Mestre (3), Jesus corrige, explicando que não é assim que se deve agir na Terra.
Embora tão próximo a Jesus – Este todo amor, todo bondade, todo paz - ainda assim Pedro cometeu esse deslize, levado pelas circunstâncias que, quiçá, pareceram-lhe fora de controle.
Se com ele assim aconteceu, e quanto a nós?!
Vamos colocar a luz da responsabilidade, para nos auto-analisarmos e nos consertarmos, em primeiro lugar.
Libertos de nossos comportamentos antiéticos, amorais, cristalizados, avançaremos em sentimentos de paz, de alegria, inundando-nos, e aos que convivem conosco, de energias saudáveis.
Em dias difíceis, olhe para o lado e sorria, dê um sorriso, o riso quebra a propensão à atitude ruim, ao temperamento aguerrido, à tentativa de revolta, é bom e nada custa.
Aprendamos com as crianças: nada melhor que o sorriso de um filho, para minar, em nós, o cansaço, a mágoa, o mau temperamento.
Deixemo-nos contagiar pelas boas energias, extraindo, do contato social, a oportunidade de educarmos nossos sentimentos; temperarmos nosso temperamento; e modularmos, para melhor, nossas sensações, nossas ações, nossos sentimentos.
Com o tempo, conquistaremos a paz.

Publicado no em o Reformador - agosto 2017
Referências:
1)    KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 131ª. ed., Brasília: FEB, 2014, Capítulo IX, p. 140.
2)    Gabriela. Música de Dorival Caymmi. Disponível em https://www.letras.mus.br/dorival-caymmi/356571/. Acesso em 2016-20-12.
3)    Mateus, 26:52

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