segunda-feira, 14 de setembro de 2015

TRANSTORNOS MENTAIS DO ESPÍRITO


Warwick Mota
 
De origem grega, o termo psicopatia significa “psiquicamente doente” e foi equivocadamente difundido no século XIX como toda espécie de doença mental. Com o tempo, essa disfunção mental foi se enquadrando em um perfil comportamental que revela perturbação específica, e, portanto, catalogada em cenário que aponta para um registro comportamental concreto, passando, dessa forma, a ser tipificadas por diversos estudiosos como uma doença mental séria.
 
São constantes na mídia os inúmeros casos que revelam as marcas da psicopatia e chama a atenção pela frieza e ausência de sentimentos que envolvem os atos praticados por um psicopata. A propósito do tema, a revista Super Interessante de maio de 2012, traz como chamada de capa, o título: “Pequenos Psicopatas”. Embora o artigo não aprofunde o bisturi da investigação acerca da gênese do problema, o autor, Eduardo Skalarz, consegue estabelecer seis perfis bem definidos de psicopatas, quais sejam: o impulsivo, o predador, o indiferente, o suicida, o incendiário, o sádico, o assassino serial, o pedófilo e o perverso, entretanto, nem todos os psicopatas são assassinos.

Em torno de cada perfil, Skalarz revela diversas características de personalidade doentia, que invariavelmente se manifestam na infância e não têm perspectiva de cura, trazendo, por isso, mesmo muito sofrimento aos pais. O autor deixa claro que, embora os traços se revelem na infância, a ciência médica só tem condições de oferecer um diagnóstico concreto depois dos 18 anos de idade, quando consegue perceber uma maturação desse distúrbio mental.

Nesse mesmo contexto, a American Psychiatric Association estabelece três critérios que permitem a emissão desse diagnóstico: a incapacidade de adequação às normas sociais, no que diz respeito à conduta legal; presença de falsidade, de impulsividade ou de incapacidade de planejamento antecipado da ação; forte irritabilidade e agressividade, não levando em conta a segurança do próprio e dos outros, revelando total irresponsabilidade e ausência de remorso. Além disso, a psicopatia se caracteriza por uma notória ausência de afetos e incapacidade de expressão de sentimentos.

Não obstante o fato de muitas crianças demonstrarem distúrbios de comportamento, isso não significa que na idade adulta serão psicopatas mas o texto traz depoimentos chocantes de pais angustiados pela situação dos filhos, como por exemplo, o triste depoimento de uma mãe argentina que relata: “Às vezes, eu acordava no meio da noite e ele estava nos observando dormir. Percebi que nos mataria a qualquer momento”.

Naturalmente o tema é largamente estudado à luz da psicologia e da psiquiatria, mas o nosso grande desafio é examiná-lo à luz da Doutrina Espírita, que nos oferece ampliados mecanismos de entendimento sobre a zona do inconsciente ou espiritual, que, como sabemos, nutre e alimenta a estrutura material.

O Dr. Jorge Andréa, ao abordar o assunto na obra “Visão Espírita das Distonias Mentais”, publicada pela Federação Espírita Brasileira – Feb, dedica o Capitulo III ao estudo das doenças mentais e no referido capítulo, examina as personalidades psicopáticas, tratando-as como distúrbios ocasionados pelos desequilíbrios na estrutura do caráter, com marcantes reflexos na vida social.

Ora, desequilíbrios na estrutura do caráter são distúrbios comportamentais do espírito, o que nos leva a concordar que esses transtornos de personalidade estão impressos no Eu, conforme estabelece Jorge Andréa. Portanto, são transtornos mentais de difícil tratamento pelas terapias tradicionais, visto que o espírito ao reencarnar traz consigo esses desajustes estruturais, que se acentuam pelo desenvolvimento das chamadas dores psicológicas. Cabe destacar nesse contexto que o perfil psicopata pode pertencer a qualquer nível social ou profissional, atuando inclusive no mundo corporativo.

Do ponto de vista da análise de personalidade, o psicopata apresenta um perfil superficial, que abriga o chamado Transtorno da Personalidade Antissocial e demonstra uma aparente normalidade. Embora eventualmente possa demonstrar impulsos irresistíveis e alterações parciais de conduta, não são de fácil identificação para os leigos, mas com o tempo percebemos que estes indivíduos são invariavelmente problemáticos.

Quando desencarnados, essas personalidades psicopatas estão identificadas nas obras espíritas e não raramente surgem com pseudo-líderes das hostes que pululam as regiões infelizes, pregam justiça a qualquer preço e caracterizam- -se como estrategistas ou julgadores, demonstram extrema frieza e pobreza de sentimentos, em suma, não diferem em nada dos encarnados inseridos na mesma temática.

Embora a matéria da Superinteressante tenha como pano de fundo crianças psicopatas, cabe observar que o nosso foco está no espírito, independente do corpo que ele ocupa. Se este é infantil ou adulto não importa, pois os distúrbios comportamentais pertencem ao espírito não ao corpo físico, por isso mesmo, devemos estar atentos para a emissão de conceitos equivocados, já que não há nenhum estudo que comprove que uma criança vai tornar-se psicopata quando adulto. Porém, se a criança se comporta de forma cruel com outras crianças, se é cruel com animais, se mente olhando nos olhos e não demonstra remorso, esses sinais apontam para um comportamento distorcido no futuro.

A par disso, na revista Veja, de 1º de abril de 2009, edição 2106, o psicólogo canadense Robert Hare, em entrevista, afirma que “ninguém nasce psicopata. Nasce com tendências para a psicopatia. A psicopatia não é uma categoria descritiva, como ser homem ou mulher, estar vivo ou morto. É uma medida, como altura ou peso, que varia para mais ou para menos”. Depreendemos que é por isso, a diferença de graus de psicopatia e respectivamente de diferentes níveis os índices de maldade humana.

A ausência de consciência é característica marcante nas personalidades psicopatas, por isso mesmo, a ciência médica afirma que a ausência desse atributo permite ao individuo praticar crimes pois eles não conseguem evitar a conduta que os levou a praticar delitos. Acerca do tema, a Doutrina Espírita vem nos ensinar que não existe efeito sem causa, que tudo tem sua razão de ser e que nenhum ataque às leis de Deus fica sem o reparo correspondente.

Conforme a Doutrina Espírita nos ensina, tudo começa na mente e certamente a mente dos psicopatas é um grande painel de inquietações. André Luiz, em Mecanismos da Mediunidade, nos esclarece sobre o funcionamento da mente, como elemento idealizador, onde o pensamento pode materializar-se, plasmando formas de longa duração como resultado da ação das ondas mentais emitidas. Ensina o Espírito André Luiz: “Na mediunidade de efeitos intelectuais, a ideoplastia assume papel extremamente importante, porque certa classe de pensamentos, constantemente repetidos sobre a mente mediúnica menos experimentada, pode constrangê-la a tomar certas imagens, mantidas pela onda mental persistente, como situações e personalidades reais, tal qual uma criança que acreditasse estar contemplando essa paisagem ou aquela pessoa, tão só por ver-lhes o retrato animado num filme”.

A imensurável capacidade biopsíquica do cérebro humano permite que este desenvolva funções capazes de gerar, sinalizar, emitir e captar energias mentais em inúmeras frequências, funcionando de forma semelhante a sofisticado sistema de comunicação que se autoalimenta pela vontade, vitalizando dessa forma todos os centros da alma. Naturalmente essas correntes possuem caráter construtivo e destrutivo e são diretamente proporcionais aos desejos e pensamentos motivadores dessas ações. E, em virtude disso, as infrações cometidas ficam arquivadas nos escaninhos da alma e, de acordo com a gravidade, produzem lesões e distúrbios no mecanismo perispiritual, de forma tal que os efeitos dessas ações afetarão profundamente o seu autor, a ponto de, em muitos casos, reconduzi-los a uma nova encarnação em corpos-prisões, ninguém foge à lei.

Embora os atos dos psicopatas causem grande comoção social, a pena de morte não se justifica sob os princípios do Espiritismo.

Na obra o Homem Integral, o Espírito Joanna de Angelis nos esclarece quanto à nossa postura, afirmando que: “A maldade sistemática, a impiedade, o temperamento hostil revelam as personalidades psicopatas que, antes, necessitam de ajuda, ao invés de reproche. A bondade, neles latente, aguarda o momento de manifestar-se e predominar, mudando-lhes o comportamento. Com tal atitude, a de identificar a bondade, torna-se possível a superação do sofrimento, como quer que se apresente, especialmente o que tem procedência moral”.

A solução que acreditamos, portanto, mesmo para os criminosos de alta periculosidade, genocidas e homicidas é que eles não devem ter suas vidas ceifadas, mas sim isolados da sociedade em prisões do tipo nosocômios (?) judiciários, ou trabalhos retificadores, a fim de que possam de alguma maneira, retribuir de forma positiva à Sociedade, os danos que tenham causado.

Texto contemplado no concurso A Doutrina Explica 2012 - jornal Brasilia Espírita maio a junho de 2015 

Referências:
Livros: 
1. FRANCO, Divaldo P. O Homem Integral. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. , Salvador, Ed. Alvorada, 1990..
2. XAVIER, Francisco Cândido; Luiz, André (espírito). Nos Domínios da Mediunidade. 29ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1977 .
3. ANDRÉA, Jorge. Visão espírita nas distonias mentais, FEB, Brasília, 1990 NOBRE, Marlene R.S. Obsessão e Suas Máscaras. 7ª ed.: Ed. Jornalística Fé, 1997..
4. KARDEC, Allan; O Livro dos Espíritos, FEB

Artigos:
1. American Psychiatric Association - http://allpsych.com/disorders/dsm. html
2. NUNES, Laura Marinha (2011), Sobre a psicopatia e sua avaliação - Laura Marinha Nunes. Docente. Programa de Pós Graduação em Psicologia Jurídica. Universidade Fernando Pessoa. Porto. Portugal; Artigo http://seer.psicologia.ufrj.br/ index.php/abp/article/view/705/548

Periódicos:
1. Revista Superinteressante - maio de 2012, edição 304, Ed. Abril
2. Revista Veja - abril de 2009, edição 2106, Ed. Abril

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