quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

EVANGELIZEMOS NOSSAS CRIANÇAS

Warwick Mota
"Deixai vir a mim os pequeninos não os impeçais, pois deles é o reino dos céus". - Jesus. (Mateus, 19:14.)

Não induzo meu filho a seguir qualquer religião, quando ele crescer ele mesmo escolhe a doutrina que quer seguir, dizia-me sempre, um determinado amigo.

É prática comum em algumas famílias, inclusive espíritas, esperar que os filhos cresçam, para que definam por si próprios a religião que desejam seguir. Alegam estas, que não tem o direito de interferir na liberdade de escolha dos filhos, que religião é objeto de escolha pessoal e de gosto diversificado, e que o indivíduo tem na idade adulta, maiores condições de definir o que melhor lhe apraz nesse aspecto.

O resultado desse pensamento reflete-se na maioria das vezes, no dia-a-dia de nossa sociedade, onde uma boa parte dos jovens desligados de qualquer sentimento de religiosidade, tem a cabeça voltada apenas para o que eles chamam de "agitos", onde a tônica é dada pelos tóxicos, álcool, sexo e violência como uma forma de auto-afirmação e porque não dizer, de preenchimento do vazio causado por essa falta de religiosidade; sem contar na contribuição funesta, que o jovem tem dado para o aumento das estatísticas de suicídios, onde atualmente ele lidera os índices.

O desconhecimento de valores espirituais aliado a despreocupação dos pais com este fator contribuem de forma contundente para o agravamento deste quadro, resultando muitas vezes, em complicados processos obsessivos e até reencarnatórios, devido a falência das partes envolvidas no contexto.

Buscar o conhecimento dos postulados espíritas, observando-se o aspecto família, implica em outras variáveis, que a priori, visa a conscientização dos pais sobre o grau da responsabilidade assumida perante os Espíritos superiores, com relação àquele espírito que aceitaram como filho na presente encarnação.

Vale ressaltar, que essa responsabilidade não se limita apenas à participação no processo reencarnatório, que basicamente divide-se em duas etapas, que se dão a seguir:

Na parte primeira, dá-se uma sistemática de envolvimento, onde são observados entre outros, os seguintes aspectos: a ficha do reencarnante para que se estabeleça os mapas cármicos, o grau de simpatia ou animosidade com relação aos genitores, a composição de mapas genéticos, o desenvolvimento de reuniões entre as partes no plano espiritual, enfim, todas as medidas que podemos pensar e que não podemos, são tomadas pelos técnicos reencarnacionistas, para que se cumpra o proposto nas Leis Divinas.

A parte segunda seria a condução desse Espírito, já encarnado, pelas mais diversas problemática da vida, seja no campo social, familiar, religioso, proporcionando-lhe meios para que desenvolva em si os aspectos, cognitivo, afetivo, intelectivo, moral, etc...

É tábula rasa para nós espíritas que a primeira infância, que é o período compreendido entre zero aos sete anos, é sem dúvida nenhuma a época em que a criança está mais sensível às sugestões dos pais, é nessa fase que devem ser ministrados através de muito amor e carinho, os conceitos de valores morais e cristãos.

Neste sentido, a evangelização espírita-infantil é de fundamental importância no processo de formação da criança, pois os vícios de personalidade se encontram adormecidos, constrangidos pelo envoltório infantil. O Espírito neste momento é comparado ao terreno fértil da parábola do semeador, as sementes que ali semearmos, germinarão fortes e viçosas, contribuindo de forma preponderante na formação moral do futuro adulto.

Não podemos esquecer que a tarefa da semeadura começa cedo, aos quatro anos a criança já pode ser encaminhada às aulas de evangelização, que parte da seguinte seqüência: inicia-se pelo maternal, dos quatro aos cinco anos, depois o jardim, dos seis aos sete anos, primeiro ao terceiro ciclo da infância que vai dos oito aos treze anos , pré juventude, primeiro e segundo ciclo da juventude, dos catorze aos vinte um anos, e finalmente, depois de uma longa caminhada, por todos esses ciclos, o jovem está pronto para o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita.

Ainda a cerca da reencarnação, nos esclarece o Espírito Manoel Philomeno de Miranda, no livro Temas da vida e da Morte, 1ª edição da FEB, página 19 que, "apesar da reencarnação se completar aos sete anos ela ainda vai se fixando lentamente até o momento da transformação da glândula pineal, na sua condição de veladora do sexo".

A esse respeito, André Luiz, no livro Missionários da Luz, 22ª edição da FEB, cap. 2º, nos dá a seguinte informação: "Enquanto no período de desenvolvimento infantil, fase de reajustamento desse centro importante do corpo perispiritual preexistente, a epífise parece constituir freio às manifestações do sexo; entretanto, há que retificar observações.

Aos catorze anos, aproximadamente, de posição estacionária, quanto às suas atribuições essenciais, recomeça a funcionar no homem reencarnado. O que representava controle é fonte criadora e válvula de escapamento. A glândula pineal reajusta-se ao concerto orgânico e reabre seus mundos maravilhosos de sensações e impressões na esfera emocional. Entrega-se a criatura à recapitulação da sexualidade, examina o inventário de suas paixões vividas noutra época, que reaparecem sob fortes impulsos ".

Diante desse quadro, podemos afirmar que em qualquer família, a fase da puberdade é com certeza uma das mais difíceis para os pais. É nesse momento que o espírito vai começando a reencontrar a sua verdadeira personalidade, iniciando-se com o chamado conflito da adolescência, que pode ser atenuado ou mesmo evitado, com uma bem estruturada educação religiosa na infância.

Deixai vir a mim os pequeninos não os impeçais pois deles é o reino dos céus, disse o Cristo aos apóstolos, que tentavam barrar a passagem de crianças até Ele. O pedido de Jesus, reverbera em nossas consciências, e entendemos que o Mestre pede que não lhes cerceemos os ensinamentos, achando que não os são necessários ainda, que deixemos que eles conheçam o Cristo, logo na infância, que é fase mais pura, mais humilde, onde os corações espargem inocência, e estão mais abertos aos preceitos cristãs.

Pensar na criança é pensar no adulto, portanto, é de vital importância que a Casa Espírita tenha essa preocupação com as crianças e com os jovens, no sentido de promover a evangelização destes, como propõe o Mestre Jesus. A FEB tem demonstrado essa preocupação, participando e promovendo cursos nessa área, é importantíssimo que as Federativas Estaduais também promovam e desenvolvam em suas regiões, programas e cursos nesse intento, não só como meio de suprir a carência de evangelizadores que é muita, como também de conscientizar os dirigentes das Casas Espíritas da importância desse trabalho, e este com certeza não um desejo apenas nosso, mas principalmente do Cristo.

Warwick Mota

(Publicado na revista Reformador de junho de 1996)

EMOÇÕES, EXPRESSÕES DO ESPÍRITO

Warwick Mota
O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o  Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação.
"Allan Kardec - A Gênese”        
Thomas Kuhn após a publicação da obra “A estrutura das Revoluções Científicas” em 1962, tornou-se anos 1970/80, o grande referencial de discussão entre os filósofos da ciência, fato que redundou no uso popular do conceito de paradigma, aplicado inicialmente à história do fazer científico.

Kuhn, ao perscrutar a estrutura em tela, demonstra que perspectiva da visão paradigmática tem por objetivo orientar o público que se prepara para o ingresso no campo das atividades científicas onde atuará, para ele “uma comunidade científica, ao adquirir um paradigma, adquire igualmente um critério para a escolha de problemas que, enquanto o paradigma for aceito, poderemos considerar como dotados de uma solução possível” .

Posto esses conceitos iniciais, reportamo-nos a uma matéria bastante interessante publicada pela Revista Istoé – edição 2054 – de 25 de março de 2009 que reputo como um novo paradigma científico e cujo título é: “Solte suas emoções”. No referido texto, a articulista começa dizendo que:

“Há um preconceito enraizado contra a livre expressão das emoções na cultura ocidental. Quem demonstra angústia, raiva, alegria excessiva ou medo, tanto no trabalho como na vida pessoal, é considerado passional, irracional, frágil e despreparado para enfrentar a realidade da vida. É aquele que não aprendeu a domar os seus sentimentos e a desenvolver aquilo que nos diferencia dos animais: a racionalidade (...)".

Pesquisas recentes comprovam a importância do reconhecimento e da expressão das emoções - até as negativas. Levantamento da Harvard Medical School, dos Estados Unidos, concluiu que quem reprime frustrações tem três vezes mais chances de se tornar vulnerável no trabalho. "As pessoas consideram a raiva como uma emoção terrivelmente perigosa e encorajam a prática do pensamento positivo", explica o autor da pesquisa, George Vaillant, que entrevistou 824 profissionais e acaba de divulgar o estudo”.

Em que pese a gama de informações que versa sobre o tema, sempre existe espaço para considerações adicionais, perante isso, cumpre-nos informar que o paradigma da ciência cartesiana (hoje dominante) está fulcrado no método sistematizado pelo chamado racionalismo científico, assimilado nas Universidades como única forma de adquirir o conhecimento verdadeiro, desenvolvido a partir de um sistema de pensamento elaborado pelo filósofo francês Renê Descartes e pelo físico inglês Isaac Newton, no século XVII.

É interessante lembrar que foi esse mesmo pensamento que permeou os questionamentos iniciais do Professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec), quando convidado a examinar o fenômeno das mesas girantes. Embora os conceitos cartesianos fizessem parte da formação intelectual do Professor Rivail, a sua visão sistêmica, que extrapolava a visão paradigmática da época, permitiu ver o homem como um ser holístico, onde o espírito pelo fenômeno reencarnatório, tem a oportunidade exteriorizar os sentimentos, com o objetivo maior de sublimá-los.

Allan Kardec é o primeiro a tratar as emoções como expressões comportamentais do Espírito e não como aptidões naturais do cérebro, contrapondo-se ao pensamento científico que sugere que as emoções entre outros comportamentos, são determinadas em grande parte pela carga genética, nesse sentido, o Espírito Hahnemann no Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IX, item X, nos socorre acerca do tema, em uma mensagem de 1863. 

“Indubitavelmente, temperamentos há que se prestam mais que outros a atos violentos, como há músculos mais flexíveis que se prestam melhor aos atos de força. Não acrediteis, porém, que aí resida a causa primordial da cólera e persuadi-vos de que um Espírito pacífico, ainda que num corpo bilioso, será sempre pacífico, e que um Espírito violento, mesmo num corpo linfático, não será brando; somente, a violência tomará outro caráter. Não dispondo de um organismo próprio a lhe secundar a violência, a cólera tornar-se-á concentrada, enquanto no outro caso será expansiva. 

O corpo não dá cólera àquele que não na tem, do mesmo modo que não dá os outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. A não ser assim, onde estariam o mérito e a responsabilidade?”

Não é por acaso que Allan Kardec é chamado de “o bom senso encarnado”, pois à luz da perspectiva espírita ele permite-nos vislumbrar que o ser humano é um ser complexo, que deve ser analisado sob as mais diversas vertentes científicas, mas também à luz do argumento religioso e filosófico, cada vertente revela particularidades e abordagens que caracterizam o constructo Divino e delineia a evolução do princípio inteligente como elemento máximo da obra de Deus.

Entretanto, ainda predomina a ênfase no aspecto material, a ponto de permitir que o homem contemporâneo continue a admitir o paradoxo do homem medievo, que na tentativa de justificar os seus desatinos comportamentais, afirmava que ao mesmo tempo em que a corpo era responsável pelo pecado, era também responsável pela remissão, e esta, era obtida com o sofrimento do corpo, para isso submetiam-se a grandes peregrinações e autoflagelação. Por isso mesmo, ainda ouvimos nos dias atuais a equivocada afirmação de que a “carne é fraca”, na tentativa de justificar a falta.

O pensamento exposto deriva da tradição bíblica que herdamos, que define a vida como corrupta onde todo impulso natural é pecaminoso, portanto, o equivoco remete a épocas imemoriais, e sua principal fonte encontra-se na doutrina da queda, quando do exame alegórico da família inicial (Adão e Eva) que habitava o Jardim do Éden, eles foram “castigados” por Deus que lhes retirou o principal atributo do corpo físico, a imortalidade, e respectivamente os expulsou do paraíso. Disso pode-se depreender nesse contexto, que o mito enfatiza a importância da matéria.

Definitivamente, a qualidade dos sentimentos e emoções revela o grau de elevação do Espírito e definem a sua condição moral, a ponto do Mestre Jesus afirmar: “Onde está o teu tesouro ali também estará o teu coração”. Corroborando com o ensino de Jesus, Emmanuel em uma anotação da obra Evolução em dois Mundos, registra que o pensamento de André Luiz exalta o nosso dever e responsabilidade no aprimoramento e controle das emoções.

“André Luiz, porém, busca apenas acordar em nós outros a noção da imortalidade, principalmente destacando-o, aos companheiros encarnados, qual forma viva da própria criatura humana, presidindo, com a orientação da mente, o dinamismo do casulo celular em que o espírito - viajor da Eternidade - se demora por algum tempo na face da Terra, em trabalho evolutivo, quando não seja no duro labor da própria regeneração. E assim procedeu, acima de tudo, para salientar que, atingindo a maioridade moral pelo raciocínio, cabe a nós mesmos aprimorar-lhe as manifestações e enriquecer-lhe os atributos, porque todos os nossos sentimentos e pensamentos, palavras e obras, nele se refletem, gerando conseqüências felizes ou infelizes, pelas quais entramos na intimidade da luz ou da sombra, da alegria ou do sofrimento”.

Finalmente, a Doutrina Espírita demonstra que a evolução consiste na nossa reorganização mental, na adoção de projetos de felicidade, pois somos ainda subprodutos dos diversos paradigmas existentes, se ainda não alcançamos a felicidade é porque muita coisa em nós precisa ser modificada, a reforma íntima é esse instrumento que permite quebrar os paradigmas sem expressão nos colocando em novo patamar de compreensão, visto que com a aplicação da reforma íntima vamos aprendendo a substituir ações menos dignas por outras mais dignas.

Warwick Mota
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Texto contemplado no concurso A Doutrina. Texto publicado no Jornal Brasilia Espírita em novembro/dezembro 2010

Bibliografia:
1-KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo,
Federação Espírita Brasileira, Rio de Janeiro, 52ª edição.
2-KARDEC, Allan.A Gênese” - Federação Espírita Brasileira,
Rio de Janeiro, 12ª edição
3-CAMARGO, Jason. Educação dos Sentimentos, Editora
Letras de Luz, Porto Alegre, 2ª edição
4-KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. 7.ª
ed. São Paulo: Perspectiva, 2003
5-KAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação Editora Cultrix,
1996,17ª edição
6-Revista ISTOÉ. Carina Rabelo, edição nº 2054, de 25 de
março de 2009
7-CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito, Editora Palas
Athena, São Paulo, 1990
8-LUIZ, André, Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.
Evolução em dois Mundos, Federação Espírita Brasileira, Rio
de Janeiro, 12ª edição

ECOLOGIA E ESPIRITISMO

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