quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

EMOÇÕES, EXPRESSÕES DO ESPÍRITO

Warwick Mota
O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o  Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação.
"Allan Kardec - A Gênese”        
Thomas Kuhn após a publicação da obra “A estrutura das Revoluções Científicas” em 1962, tornou-se anos 1970/80, o grande referencial de discussão entre os filósofos da ciência, fato que redundou no uso popular do conceito de paradigma, aplicado inicialmente à história do fazer científico.

Kuhn, ao perscrutar a estrutura em tela, demonstra que perspectiva da visão paradigmática tem por objetivo orientar o público que se prepara para o ingresso no campo das atividades científicas onde atuará, para ele “uma comunidade científica, ao adquirir um paradigma, adquire igualmente um critério para a escolha de problemas que, enquanto o paradigma for aceito, poderemos considerar como dotados de uma solução possível” .

Posto esses conceitos iniciais, reportamo-nos a uma matéria bastante interessante publicada pela Revista Istoé – edição 2054 – de 25 de março de 2009 que reputo como um novo paradigma científico e cujo título é: “Solte suas emoções”. No referido texto, a articulista começa dizendo que:

“Há um preconceito enraizado contra a livre expressão das emoções na cultura ocidental. Quem demonstra angústia, raiva, alegria excessiva ou medo, tanto no trabalho como na vida pessoal, é considerado passional, irracional, frágil e despreparado para enfrentar a realidade da vida. É aquele que não aprendeu a domar os seus sentimentos e a desenvolver aquilo que nos diferencia dos animais: a racionalidade (...)".

Pesquisas recentes comprovam a importância do reconhecimento e da expressão das emoções - até as negativas. Levantamento da Harvard Medical School, dos Estados Unidos, concluiu que quem reprime frustrações tem três vezes mais chances de se tornar vulnerável no trabalho. "As pessoas consideram a raiva como uma emoção terrivelmente perigosa e encorajam a prática do pensamento positivo", explica o autor da pesquisa, George Vaillant, que entrevistou 824 profissionais e acaba de divulgar o estudo”.

Em que pese a gama de informações que versa sobre o tema, sempre existe espaço para considerações adicionais, perante isso, cumpre-nos informar que o paradigma da ciência cartesiana (hoje dominante) está fulcrado no método sistematizado pelo chamado racionalismo científico, assimilado nas Universidades como única forma de adquirir o conhecimento verdadeiro, desenvolvido a partir de um sistema de pensamento elaborado pelo filósofo francês Renê Descartes e pelo físico inglês Isaac Newton, no século XVII.

É interessante lembrar que foi esse mesmo pensamento que permeou os questionamentos iniciais do Professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec), quando convidado a examinar o fenômeno das mesas girantes. Embora os conceitos cartesianos fizessem parte da formação intelectual do Professor Rivail, a sua visão sistêmica, que extrapolava a visão paradigmática da época, permitiu ver o homem como um ser holístico, onde o espírito pelo fenômeno reencarnatório, tem a oportunidade exteriorizar os sentimentos, com o objetivo maior de sublimá-los.

Allan Kardec é o primeiro a tratar as emoções como expressões comportamentais do Espírito e não como aptidões naturais do cérebro, contrapondo-se ao pensamento científico que sugere que as emoções entre outros comportamentos, são determinadas em grande parte pela carga genética, nesse sentido, o Espírito Hahnemann no Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IX, item X, nos socorre acerca do tema, em uma mensagem de 1863. 

“Indubitavelmente, temperamentos há que se prestam mais que outros a atos violentos, como há músculos mais flexíveis que se prestam melhor aos atos de força. Não acrediteis, porém, que aí resida a causa primordial da cólera e persuadi-vos de que um Espírito pacífico, ainda que num corpo bilioso, será sempre pacífico, e que um Espírito violento, mesmo num corpo linfático, não será brando; somente, a violência tomará outro caráter. Não dispondo de um organismo próprio a lhe secundar a violência, a cólera tornar-se-á concentrada, enquanto no outro caso será expansiva. 

O corpo não dá cólera àquele que não na tem, do mesmo modo que não dá os outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. A não ser assim, onde estariam o mérito e a responsabilidade?”

Não é por acaso que Allan Kardec é chamado de “o bom senso encarnado”, pois à luz da perspectiva espírita ele permite-nos vislumbrar que o ser humano é um ser complexo, que deve ser analisado sob as mais diversas vertentes científicas, mas também à luz do argumento religioso e filosófico, cada vertente revela particularidades e abordagens que caracterizam o constructo Divino e delineia a evolução do princípio inteligente como elemento máximo da obra de Deus.

Entretanto, ainda predomina a ênfase no aspecto material, a ponto de permitir que o homem contemporâneo continue a admitir o paradoxo do homem medievo, que na tentativa de justificar os seus desatinos comportamentais, afirmava que ao mesmo tempo em que a corpo era responsável pelo pecado, era também responsável pela remissão, e esta, era obtida com o sofrimento do corpo, para isso submetiam-se a grandes peregrinações e autoflagelação. Por isso mesmo, ainda ouvimos nos dias atuais a equivocada afirmação de que a “carne é fraca”, na tentativa de justificar a falta.

O pensamento exposto deriva da tradição bíblica que herdamos, que define a vida como corrupta onde todo impulso natural é pecaminoso, portanto, o equivoco remete a épocas imemoriais, e sua principal fonte encontra-se na doutrina da queda, quando do exame alegórico da família inicial (Adão e Eva) que habitava o Jardim do Éden, eles foram “castigados” por Deus que lhes retirou o principal atributo do corpo físico, a imortalidade, e respectivamente os expulsou do paraíso. Disso pode-se depreender nesse contexto, que o mito enfatiza a importância da matéria.

Definitivamente, a qualidade dos sentimentos e emoções revela o grau de elevação do Espírito e definem a sua condição moral, a ponto do Mestre Jesus afirmar: “Onde está o teu tesouro ali também estará o teu coração”. Corroborando com o ensino de Jesus, Emmanuel em uma anotação da obra Evolução em dois Mundos, registra que o pensamento de André Luiz exalta o nosso dever e responsabilidade no aprimoramento e controle das emoções.

“André Luiz, porém, busca apenas acordar em nós outros a noção da imortalidade, principalmente destacando-o, aos companheiros encarnados, qual forma viva da própria criatura humana, presidindo, com a orientação da mente, o dinamismo do casulo celular em que o espírito - viajor da Eternidade - se demora por algum tempo na face da Terra, em trabalho evolutivo, quando não seja no duro labor da própria regeneração. E assim procedeu, acima de tudo, para salientar que, atingindo a maioridade moral pelo raciocínio, cabe a nós mesmos aprimorar-lhe as manifestações e enriquecer-lhe os atributos, porque todos os nossos sentimentos e pensamentos, palavras e obras, nele se refletem, gerando conseqüências felizes ou infelizes, pelas quais entramos na intimidade da luz ou da sombra, da alegria ou do sofrimento”.

Finalmente, a Doutrina Espírita demonstra que a evolução consiste na nossa reorganização mental, na adoção de projetos de felicidade, pois somos ainda subprodutos dos diversos paradigmas existentes, se ainda não alcançamos a felicidade é porque muita coisa em nós precisa ser modificada, a reforma íntima é esse instrumento que permite quebrar os paradigmas sem expressão nos colocando em novo patamar de compreensão, visto que com a aplicação da reforma íntima vamos aprendendo a substituir ações menos dignas por outras mais dignas.

Warwick Mota
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Texto contemplado no concurso A Doutrina. Texto publicado no Jornal Brasilia Espírita em novembro/dezembro 2010

Bibliografia:
1-KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo,
Federação Espírita Brasileira, Rio de Janeiro, 52ª edição.
2-KARDEC, Allan.A Gênese” - Federação Espírita Brasileira,
Rio de Janeiro, 12ª edição
3-CAMARGO, Jason. Educação dos Sentimentos, Editora
Letras de Luz, Porto Alegre, 2ª edição
4-KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. 7.ª
ed. São Paulo: Perspectiva, 2003
5-KAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação Editora Cultrix,
1996,17ª edição
6-Revista ISTOÉ. Carina Rabelo, edição nº 2054, de 25 de
março de 2009
7-CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito, Editora Palas
Athena, São Paulo, 1990
8-LUIZ, André, Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.
Evolução em dois Mundos, Federação Espírita Brasileira, Rio
de Janeiro, 12ª edição

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