quarta-feira, 9 de novembro de 2016

TRABALHANDO HABITOS

Por Warwick Mota


De uma mensagem (1), psicografada por Francisco Cândido Xavier, sob a qual o Espírito autor não se identificou, retiremos pequeno trecho:
A Mente é meu Lar. O Coração é meu Templo. (...)

O Amor é minha Lei. (...)

A Experiência é minha Escola. (...).

A Perfeição é meu Destino.

Desse belo poema, se empreendermos minucioso exame, poderemos dimensionar a questão da evolução, em seus diversos aspectos.
Analisando essa mensagem, observamos que hábito e destino interagem profundamente, pois é na rotina estabelecida que traçamos o nosso futuro.
O hábito predispõe aos costumes, que, sendo salubres ou insalubres, anunciam o nosso destino.
Triste é que, em nosso atual estágio evolutivo, nossos hábitos têm sido, a mais das vezes, insalubres.
Mas, no princípio não era assim...
Como sabemos, fomos criados simples, ignorantes, sem qualquer saber (2).
Em nossa simplicidade inicial, não apresentávamos maus hábitos, pois nosso primeiro estágio era em contato com o mundo natural.
É no avançar como Espíritos que vamos fazendo nossas escolhas.
E nosso livre arbítrio vai sempre nos permitir as boas ou más escolhas.
Vai nos possibilitar tomar as boas ou más atitudes. Assumir, diante da vida, bons ou maus hábitos.
Lamentavelmente, vamos adicionando, à vontade, a paixão, que é o excesso em tudo.
É a paixão que nos traz o sentimento de posse, que avança até a nossa relação com as pessoas, para além de coisas.
É esse excesso no sentir que nos induz ao apego a tudo.
Aí entendemos que o desejo de possuir, quando descontrolado, pode nos levar à insanidade, a ponto de deixarmos de lado nosso crescimento moral, somente para buscarmos, nos bens materiais, a loucura da satisfação de desejos egoísticos.
O excesso, que colocamos na vontade, traduz-se em apego, revelando a faceta humana mais cruel: nossa postura egocêntrica e egoísta de viver.
É certo: dentre as dificuldades que encontramos, quando encarnados, o egoísmo é o defeito mais difícil de ser combatido, em função de que esse sentimento, tão atrasado, imanta o Espírito diretamente à matéria.
É o egoísmo uma doença moral que o homem carrega consigo há milênios.
Demonstração dessa ênfase à matéria, em detrimento do que é espiritual, aparece, muito claramente, quando Pilatos pergunta, a Jesus, se ele era rei... (3).
Diante do Cristo, a alma mais elevada que já pisou sobre a Terra, Pilatos simplesmente se apega a questões materiais, temporais...
- Tu és rei?
Ele pergunta.
E o Mestre volta-se a explicar a ele que o reino dele não é deste mundo...
A questão é que, na verdade, o que é espiritual, em nossos hábitos arragaidos ao que é transitório, temos deixado de lado.
E, sempre, vimos nos ligando à matéria, colocando-a como elemento substancial, esquecendo-nos do que é verdadeiramente essencial à vida.
Maus hábitos somente serão verdadeiramente combatidos com a ferramenta chamada reforma íntima, reforma interior.
Somente conseguiremos chegar bem à vida futura, quando conseguirmos usar bem essa ferramenta.
Temos vindo, até agora, como embarcações frouxas, ao gosto da correnteza dos hábitos.
Vimos seguindo, em encarnações sucessivas, num reiterado processo de viciação.
De fato: são vários hábitos, manias, vícios e apegos que nos prendem a situações, coisas ou pessoas e nos impedem de nos avançarmos em termos evolutivos. Por exemplo: o hábito de falar demais, num processo de interlocução, onde o outro não consegue falar;
ou o vício de consumir excessivamente, para compensar outras dificuldades; ou a mania de se lamentar de tudo e de todos, vitimizando-se, para chamar a atenção dos outros.
Nosso atraso evolutivo está patente também no hábito de se achar sempre certo. Ou no péssimo hábito de querer dar sempre a última palavra.
Ou, ainda, na mania de grandeza de achar que os outros têm sempre de vir até nós, quando Jesus não nos ensinou assim...
Todos esses problemas compõem um arcabouço de dificuldades morais traduzidas em hábitos perniciosos, que precisam ser combatidos, mesmo quando se manifestam em clichês arrogantes, com os quais nos acostumamos – como o que diz “eu não levo desaforo para casa” - tanto quanto se manifestam nas próprias atitudes intoleráveis, como a do tirano doméstico, detestado entre os seus.
Estão nossos maus hábitos arraigados apresentando-se também no trânsito, na via pública, quando achamos que só nós temos compromissos importantes, e não deixamos o outro passar, nem entrar na nossa frente, e reclamamos quando temos de parar, seja no sinal, seja para o pedestre, seja num cruzamento.
Precisamos ver que os maus hábitos, ao final, sempre nos colocam em situações de sofrimento, seja conosco mesmos, porque nos percebemos estagnados, quando poderíamos estar avançando, seja na relação com os demais, porque acabamos ferindo ou magoando muitas vezes até mesmo quem mais amamos.
Para combatermos os vícios que ainda carregamos, precisamos de coragem.
Um bom começo é reconhecermos o que ainda vive em nós e que sentimos.
É arrogância, esse sentimento que se aloja em nosso íntimo?
É egoísmo, o que estamos sentindo?
Isso que nos invade neste instante, seria prepotência?
Talvez ciúme?
Esse tipo de autoconhecimento, quando sinceramente buscado, vai nos ajudar a trabalhar nossas emoções, nossos sentimentos malbaratados, nossos hábitos e costumes maus.
Estamos mascarando quais sentimentos reais, por trás das nossas atitudes?
Para tomarmos a paz que Jesus nos deixa, precisamos nos conhecer!...
Para recebermos o legado que Jesus nos oferece, é preciso estarmos num caminho de transformação.
Nossas dificuldades exteriorizam-se através dos hábitos ruins. Isso é inegável.
Estão nas ironias, no senso de superioridade, na não responsabilização diante dos erros, no fanatismo.
Só conseguiremos superar tudo isso, se buscarmos o exemplo do Cristo e nos decidirmos a segui-lo.
Só assim conseguiremos iniciar relações simbióticas, em patamares verdadeiros, porque as mudanças surgem de dentro para fora, não o contrário. Mesmo que ocorram lentamente.
É de pensarmos: já que o outro é meu espelho, se eu me tornar passível de ter bons hábitos e atitudes, receberei isso do meu igual!...
Um bom início é deixarmos florir, em nós, o amor.
E, se esse processo for vagaroso, não importa: “A Perfeição é meu Destino” (4).

Publicado no Reformador nov/2016 - http://www.souleitorespirita.com.br/reformador/

Referências:

1)    XAVIER, Francisco Cândido, citado por ABRANCHES, Carlos Augusto. (Por: O Espírito). Vozes do Espírito. Rio de Janeiro: FEB, 1997, 2ª. ed. p. 23.

2)    KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1991, 71ª. ed., p. 95.

3)    João, 18:37.

4)    XAVIER, Francisco Cândido, citado por ABRANCHES, Carlos Augusto. (Por: O Espírito). Vozes do Espírito. Rio de Janeiro: FEB, 1997, 2ª. ed. p. 23.

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