De uma mensagem (1), psicografada por Francisco
Cândido Xavier, sob a qual o Espírito autor não se identificou, retiremos
pequeno trecho:
A Mente é meu Lar.
O Coração é meu Templo. (...)
O Amor é minha Lei. (...)
A Experiência é minha Escola. (...).
A Perfeição é meu Destino.
Desse belo poema, se empreendermos minucioso exame, poderemos dimensionar a questão da evolução, em seus diversos aspectos.
Analisando essa mensagem, observamos que
hábito e destino interagem profundamente, pois é na rotina estabelecida que
traçamos o nosso futuro.
O hábito predispõe aos costumes, que,
sendo salubres ou insalubres, anunciam o nosso destino.
Triste é que, em nosso atual estágio
evolutivo, nossos hábitos têm sido, a mais das vezes, insalubres.
Mas, no princípio não era assim...
Como sabemos, fomos criados simples,
ignorantes, sem qualquer saber (2).
Em nossa simplicidade inicial, não
apresentávamos maus hábitos, pois nosso primeiro estágio era em contato com o
mundo natural.
É no avançar como Espíritos que vamos
fazendo nossas escolhas.
E nosso livre arbítrio vai sempre nos
permitir as boas ou más escolhas.
Vai nos possibilitar tomar as boas ou
más atitudes. Assumir, diante da vida, bons ou maus hábitos.
Lamentavelmente, vamos adicionando, à
vontade, a paixão, que é o excesso em tudo.
É a paixão que nos traz o sentimento de
posse, que avança até a nossa relação com as pessoas, para além de coisas.
É esse excesso no sentir que nos induz
ao apego a tudo.
Aí entendemos que o desejo de possuir, quando
descontrolado, pode nos levar à insanidade, a ponto de deixarmos de lado nosso
crescimento moral, somente para buscarmos, nos bens materiais, a loucura da satisfação
de desejos egoísticos.
O excesso, que colocamos na vontade, traduz-se
em apego, revelando a faceta humana mais cruel: nossa postura egocêntrica e
egoísta de viver.
É certo: dentre as dificuldades que
encontramos, quando encarnados, o egoísmo é o defeito mais difícil de ser combatido,
em função de que esse sentimento, tão atrasado, imanta o Espírito diretamente à
matéria.
É o egoísmo uma doença moral que o homem
carrega consigo há milênios.
Demonstração dessa ênfase à matéria, em
detrimento do que é espiritual, aparece, muito claramente, quando Pilatos
pergunta, a Jesus, se ele era rei... (3).
Diante do Cristo, a alma mais elevada
que já pisou sobre a Terra, Pilatos simplesmente se apega a questões materiais,
temporais...
- Tu és rei?
Ele pergunta.
E o Mestre volta-se a explicar a ele que
o reino dele não é deste mundo...
A questão é que, na verdade, o que é
espiritual, em nossos hábitos arragaidos ao que é transitório, temos deixado de
lado.
E, sempre, vimos nos ligando à matéria,
colocando-a como elemento substancial, esquecendo-nos do que é verdadeiramente essencial
à vida.
Maus hábitos somente serão
verdadeiramente combatidos com a ferramenta chamada reforma íntima, reforma
interior.
Somente conseguiremos chegar bem à vida
futura, quando conseguirmos usar bem essa ferramenta.
Temos vindo, até agora, como embarcações
frouxas, ao gosto da correnteza dos hábitos.
Vimos seguindo, em encarnações
sucessivas, num reiterado processo de viciação.
De fato: são vários hábitos, manias,
vícios e apegos que nos prendem a situações, coisas ou pessoas e nos impedem de
nos avançarmos em termos evolutivos. Por exemplo: o hábito de falar demais, num
processo de interlocução, onde o outro não consegue falar;
ou o vício de consumir excessivamente,
para compensar outras dificuldades; ou a mania de se lamentar de tudo e de
todos, vitimizando-se, para chamar a atenção dos outros.
Nosso atraso evolutivo está patente
também no hábito de se achar sempre certo. Ou no péssimo hábito de querer dar
sempre a última palavra.
Ou, ainda, na mania de grandeza de achar
que os outros têm sempre de vir até nós, quando Jesus não nos ensinou assim...
Todos esses problemas compõem um
arcabouço de dificuldades morais traduzidas em hábitos perniciosos, que
precisam ser combatidos, mesmo quando se manifestam em clichês arrogantes, com
os quais nos acostumamos – como o que diz “eu não levo desaforo para casa” - tanto
quanto se manifestam nas próprias atitudes intoleráveis, como a do tirano
doméstico, detestado entre os seus.
Estão nossos maus hábitos arraigados
apresentando-se também no trânsito, na via pública, quando achamos que só nós
temos compromissos importantes, e não deixamos o outro passar, nem entrar na
nossa frente, e reclamamos quando temos de parar, seja no sinal, seja para o
pedestre, seja num cruzamento.
Precisamos ver que os maus hábitos, ao
final, sempre nos colocam em situações de sofrimento, seja conosco mesmos,
porque nos percebemos estagnados, quando poderíamos estar avançando, seja na
relação com os demais, porque acabamos ferindo ou magoando muitas vezes até mesmo
quem mais amamos.
Para combatermos os vícios que ainda
carregamos, precisamos de coragem.
Um bom começo é reconhecermos o que ainda
vive em nós e que sentimos.
É arrogância, esse sentimento que se
aloja em nosso íntimo?
É egoísmo, o que estamos sentindo?
Isso que nos invade neste instante,
seria prepotência?
Talvez ciúme?
Esse tipo de autoconhecimento, quando
sinceramente buscado, vai nos ajudar a trabalhar nossas emoções, nossos
sentimentos malbaratados, nossos hábitos e costumes maus.
Estamos mascarando quais sentimentos
reais, por trás das nossas atitudes?
Para tomarmos a paz que Jesus nos deixa,
precisamos nos conhecer!...
Para recebermos o legado que Jesus nos
oferece, é preciso estarmos num caminho de transformação.
Nossas dificuldades exteriorizam-se
através dos hábitos ruins. Isso é inegável.
Estão nas ironias, no senso de
superioridade, na não responsabilização diante dos erros, no fanatismo.
Só conseguiremos superar tudo isso, se
buscarmos o exemplo do Cristo e nos decidirmos a segui-lo.
Só assim conseguiremos iniciar relações
simbióticas, em patamares verdadeiros, porque as mudanças surgem de dentro para
fora, não o contrário. Mesmo que ocorram lentamente.
É de pensarmos: já que o outro é meu
espelho, se eu me tornar passível de ter bons hábitos e atitudes, receberei isso
do meu igual!...
Um bom início é deixarmos florir, em nós,
o amor.
E, se esse processo for vagaroso, não
importa: “A Perfeição é meu Destino” (4).
Referências:
1) XAVIER, Francisco Cândido, citado por
ABRANCHES, Carlos Augusto. (Por: O Espírito). Vozes do Espírito. Rio de
Janeiro: FEB, 1997, 2ª. ed. p. 23.
2) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
Rio de Janeiro: FEB, 1991, 71ª. ed., p. 95.
3)
João, 18:37.
4)
XAVIER,
Francisco Cândido, citado por ABRANCHES, Carlos Augusto. (Por: O Espírito).
Vozes do Espírito. Rio de Janeiro: FEB, 1997, 2ª. ed. p. 23.
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