Vamos falar sobre as uniões afetivas na Terra.
Atualmente, o de que todos nós temos notícia
são histórias e mais histórias de casamentos que se desfazem por motivos fúteis,
questões banais, e, por outro lado, lamentavelmente vemos pessoas consorciarem-se
buscando, equivocadamente, nas uniões, a solução para problemas pessoais.
Quando vemos almas, em diferentes graus de
evolução moral, unidas em compromissos de muito sofrimento, surge-nos, num
átimo, o questionamento, tão natural: por que tantos desencontros?
Examinando de maneira mais detida a questão,
vamos perceber que, na Terra, há variados tipos de uniões.
Martins Peralva, na obra “Estudando a
mediunidade”, de maneira muito didática (1), ensina-nos a localizar as uniões
terrenas como acidentais, provacionais, sacrificiais, afins ou transcendentes.
Uniões acidentais
A união acidental é aquela que se dá mesmo por
acaso. É a paixão fulminante que, na verdade, camufla incontido impulso sexual.
Muitas vezes, levadas pelo instinto, as pessoas
vêm a se unir, gerando compromissos sérios para ambas, especialmente quando
trazem ao mundo uma terceira pessoa, um filho.
Esta é uma união acidentada mesmo.
Após o “enfim sós”, no momento em que principia
a convivência, as pessoas logo percebem que escolheram mal o parceiro...
Joanna de Ângelis, quando examina a questão dos
encontros apenas baseados na satisfação dos apetites ainda animalizados que o
ser humano carrega, explica que o “sexo, em si mesmo, sem os condimentos do
amor, é impulso violento e fugaz” (2).
E, porque fugaz, o sexo desvinculado do
compromisso afetivo torna também as relações, onde ele se impõe como causa
primeira, quase que insustentáveis, na esteira do tempo.
Se o compromisso foi instituído a partir desse
molde, da mera busca de sensações, então as pessoas ligam-se pela mesma
vibração, num acumpliciamento que se traduz na mera associação de energias. Aí
reside, com altíssima probabilidade, a infelicidade de ambos os cônjuges, que
se buscaram apenas para a satisfação de sensações corpóreas.
Não obstante ser, literalmente, um acidente de
percursos, a união acidental também gera vínculos, porque o objetivo da humanidade
é crescer como família universal, e é no cadinho da convivência que aprendemos
e evoluímos.
Vejamos que, de tudo, a Providência Divina tira
um bem.
Se a união foi um acidente, ainda assim, na
usina das relações, encontramos oportunidade de exercitarmos as virtudes,
examinarmos comportamentos e, com o aprendizado oriundo do erro perpetrado,
podemos ir diminuindo os vícios morais e aprendendo a nos conhecer, analisando
nosso comportamento e atitudes.
Uniões provacionais
Então temos os casamentos provacionais. Estes
são um convite ao reajuste.
Durante nossa caminhada evolutiva, cometemos
variados tipos de erros, vitimando pessoas com o nosso egoísmo, com o nosso
orgulho, com nossa conduta mal intencionada.
É aí que voltam a nós, esses companheiros de
jornada, na condição de cônjuges, nas uniões provacionais, para o necessário
ajuste de contas.
Nossos equívocos geram conseqüências na vida das
outras pessoas e precisamos, para estarmos quites com a nossa consciência,
resgatar os erros e, por que não dizer, os crimes do passado, numa célula
abençoada chamada família.
A família é o laboratório por excelência para
aprimorarmos nosso comportamento, resgatando, pela via do amor, o mal que
porventura tenhamos cometido contra o nosso próximo.
Os casamentos provacionais são, em nosso
estágio evolutivo, os que superabundam na sociedade. Sem dúvida, são a
tipologia em maior escala.
Nos casamentos provacionais, tudo está em
xeque: a impaciência, o descuido, a deseducação, o desmazelo com a relação.
Tudo precisa ser visto e tratado no dia a dia.
Pensemos que, se o outro nos parece
insuportável, nós também, talvez, não sejamos, na realidade, exatamente como a
outra pessoa sonhou ou desejou...
Uniões sacrificiais
Há também o casamento sacrificial.
Representa a instância de reencontro entre a
alma iluminada e outra, alma ainda inferiorizada, em que a mais avançada tem o ensejo
de impulsionar a redenção da que ficou para trás, na caminhada evolutiva. É
que, na trajetória espiritual de ambos, enquanto um se perdeu pelo caminho, o
outro evoluiu.
Em muitos lares testemunhamos esse tipo de
relação. São aqueles casos de esposas meigas, verdadeiras flores, ao lado de
maridos afetivamente secos. Ou de homens que são esposos e pais absolutos,
suportando mulheres que não conseguem se conter ou se equilibrar em nenhuma
situação.
Uniões afins
E aí temos os casamentos afins, que representa
o reencontro de corações amigos, para consolidação dos afetos.
São uniões harmônicas.
Casamentos afins ocorrem com almas que vêm de
longa data desenvolvendo um trabalho espiritual.
Uniões transcendentes
E, por fim, saltam aos olhos as uniões
transcendentes.
Raríssimas num planeta como o nosso, ocorrem
quando duas almas, em alto patamar evolutivo, retornam juntas, para, lado a
lado, cumprirem grandes missões.
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Então sabemos que até mesmo no caso dos
casamentos acidentais, os espíritos assumem um compromisso, a partir da união
oficializada, e, daí em diante, haverão de se encontrar e reencontrar, em
diferentes papéis, em sua caminhada evolutiva.
Assim podemos perceber que toda relação humana
traz uma oportunidade de crescimento, que pode ser bem aproveitada, para
desenvolvimento afetivo.
Há pessoas que tentam, em diversas uniões,
encontrarem a pessoa certa, quando, na verdade, elas mesmas é que deveriam se
trabalhar, burilando as próprias imperfeições, para, com quem estiverem, serem,
sim, sempre, em uniões duradouras, as pessoas, senão certas, ao menos acertadas.
Todo relacionamento estável, aí não importando
se veio de forma acidental, se é provacional, se exige sacrifício ou se é
harmônico e belo, precisa ser adubado por ambos os cônjuges, cotidianamente. A conquista do dia a dia e o cuidado
permanente com a relação é que vão proporcionar o crescimento do respeito e do
amor, em sua concepção mais abrangente.
Publicado na RIE – Revista Internacional de
Espiritismo – Set/2016
https://www.oclarim.org/oclarim/materias/4870/revista/2016/Setembro/casamentos-na-terra-e-unioes-infelizes.htmlReferências:
1)
Martins
Peralva, citado por Gerson Monteiro em “Confira se seu casamento é
provacional”. Disponível em http://www.correioespirita.org.br/categoria-de-materias/artigos-diversos/1366-confira-se-seu-casamento-e-provacional-ou . Acesso
em 21 de fev. 2016.
2)
FRANCO,
Divaldo (Pelo Espírito Joanna de Ângelis). Amor, imbatível amor. 16ª. ed.
Salvador, Leal, 2013, p. 26 (Série Psicológica, vol 9).
Excelente artigo! abre a mente e coração para muitas reflexões. Parabéns!
ResponderExcluirObrigado Bety, muito grato pelo seu comentário.
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