sábado, 16 de julho de 2016

NOSSA CONDIÇÃO ESPIRITUAL

Por Warwick Mota

Este tema é muito importante: preocupamo-nos constantemente com a nossa condição material, física...

Precisamos nos preocupar, também, com a nossa condição espiritual.

A Espiritualidade sempre nos propõe a reflexão sobre o tema.

Muitas vezes, quando nos propomos um projeto de vida, desistimos logo no início, quando esse projeto requer mudança íntima, de atitude.

São sempre a comodidade à rotina e o desânimo que nos fazem estacionar, apesar de tantas capacidades que temos, de avançar...

Por que será que não mantemos, nessas decisões, a perseverança?!

É assertiva do Cristo: “aquele que perseverar até o fim será salvo...” (1).

Jesus quer nos dizer que a perseverança deve ser, para nós, um alvo.

Se não colocarmos a perseverança como meta, nossa caridade tenderá a se esfriar e, de repente, o que antes era desejo ardoroso perde-se em meio a tantos nadas do dia a dia.

Há algum tempo, vi um grupo de amigos fundar uma casa espírita.

Um colaborador queria começar todas as atividades, de imediato: estava na recepção, também na livraria, cuidava do estudo, não saía mais do centro. De domingo a domingo estava no labor, sem parar...

Passou o tempo.

Após assumir muitos compromissos, de repente ele desapareceu.

Sumiu de todos os trabalhos.

Um dia, eu ia andando por uma avenida, na cidade, e o encontrei.

Perguntei o que tinha acontecido, porque ele havia sumido das tarefas naquela casa, e então ele me respondeu: - me cansei de tanto trabalho, agora eu sou espírita freelancer!...

Assim disse para me explicar que, agora, quando queria, fazia alguma atividade em alguma casa espírita, aqui ou ali...

E só. Sem compromisso.

Lamentei.

Não podemos deixar a caridade, no nosso coração, esfriar...

Isso denota falta de perseverança diante das tarefas.

E, manter perseverança, dá também conta da nossa condição espiritual.

Perseverança é firmeza, constância nos propósitos. É seguirmos adiante, para além das dificuldades, sem desistirmos.

Na nossa vida, encontramos obstáculos, todos os dias.

Aqui, é a dificuldade que se faz presente.

Mais ali, nos falta a fé...

Mais um pouco e nos envergonhamos do nosso pouco desenvolvimento espiritual e, pior, nos retraímos diante das tarefas apresentadas, achando-nos pequenos demais...

Precisamos nos encorajar, apesar da condição espiritual em que nos encontramos.

Na verdade, os apóstolos que Jesus escolheu também titubearam em alguns instantes.

Vejamos o episódio da barca (2).

Jesus dormia. Começou a tempestade. Os discípulos se apavoraram:

- Mestre, nós vamos morrer e tu dormes?!

Vejamos a insegurança neles...

...E era Jesus quem estava ali!

 Jesus, que ultrapassa, sem limites, a condição espiritual de todos os habitantes do planeta!

Na verdade, não temos nem condições de avaliar o quilate espiritual do Mestre.

Apenas sabemos que, em nossa humilde condição, devemos segui-lo...

E seguimo-lo porque são os Espíritos quem nos falam, em resposta a Kardec (3), que Ele é o modelo mais perfeito e puro que já pisou a Terra.

Então, para nosso modelo de condição espiritual a ser alcançada, Jesus é a referência.

A pergunta que temos de sempre fazer é: em que condição espiritual vamos, desta vez, retornar à Espiritualidade, de onde saímos um dia, cheios de promessas?

Qual é o lastro que levaremos conosco?

Numa alegoria, podemos dizer que, na Contabilidade Divina, nosso ativo serão sempre as aquisições de ordem moral.

Essas, na hora do desencarne, apresentam-se com liquidez imediata!

Falam de nós, dão conta de nós.

Apenas elas.

Então o natural é cobrarmos de nós, que já estamos na Doutrina, um arquivo de obras do bem realmente feitas.

E o que não é natural é deixarmos que os pequenos empecilhos, onde a gente também escorrega, façam-nos estacionar no erro...

A proposta da Doutrina Espírita, para nós, é uma proposta de auto-responsabilização, sem a culpa que desestrutura o psiquismo.

A responsabilização, ao contrário, eleva-nos, nos dá renovada estatura moral, porque nos mostra que podemos refazer os nossos caminhos, não como vítimas de nós mesmos, mas como pessoas que têm a grandeza de recomeçar.

E, então, seremos perseverantes diante das transformações necessárias.

A gente não olha o espelho do rosto?

Precisamos também auscultar a alma!

Não temos tantos projetos de vida?...

Temos de ter projetos espirituais também!

Precisamos ser protagonistas de nossa própria transformação espiritual.

Ninguém contrata um arquiteto, um profissional de obras, e fica do lado de fora da residência, esperando que os outros façam as transformações desejadas, sem opinar, sem explicar, sem participar da reforma...

Da mesma forma, para alterarmos a nossa condição espiritual, precisamos olhar para nós mesmos, reconhecendo nossos defeitos, nossas dificuldades, e, também, exaltar alguma virtude de que sejamos portadores, para avançarmos.

Sem autoavaliação, não é possível construir-se nada...

O que precisamos nos lembrar é que somos herdeiros de nossas próprias conquistas, porque somos responsáveis por elas.

E podemos alterar nossa trajetória espiritual, porque, aprendemos, não há engessamento na lei de causa e efeito.

Sejamos perseverantes.

Não podemos deixar que pequenos desencantos nos façam desistir.

Se deixarmos esfriar o ímpeto para o trabalho, para o bem, vamos deixar de agir em prol do próximo e, naturalmente, estaremos deixando de fazer por nós mesmos.

Cabe ao espírita caminhar decidido, com perseverança.


Continuar seguindo, com a consciência lúcida, amadurecida, sem se desesperar ante as pequenas dificuldades.

O que é importante lembrarmos é que a condição que chegaremos ao plano espiritual e às próximas vidas está sendo definida agora. 

Publicado no jornal O Clarim julho/2016
https://www.oclarim.org/oclarim/2016/Julho/318/jornal-o-clarim.html

Referências:
1)      Mateus, 24: 24
2)      Marcos, 4: 38
3)      KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83ª. ed.: Rio de Janeiro, FEB. q. 625, p. 308.

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