Este tema é muito importante: preocupamo-nos constantemente
com a nossa condição material, física...
Precisamos nos preocupar, também, com
a nossa condição espiritual.
A Espiritualidade sempre nos propõe a
reflexão sobre o tema.
Muitas vezes, quando nos propomos um projeto
de vida, desistimos logo no início, quando esse projeto requer mudança íntima,
de atitude.
São sempre a comodidade à rotina e o desânimo
que nos fazem estacionar, apesar de tantas capacidades que temos, de avançar...
Por que será que não mantemos, nessas
decisões, a perseverança?!
É assertiva do Cristo: “aquele que perseverar
até o fim será salvo...” (1).
Jesus quer nos dizer que a perseverança deve
ser, para nós, um alvo.
Se não colocarmos a perseverança como meta, nossa
caridade tenderá a se esfriar e, de repente, o que antes era desejo ardoroso
perde-se em meio a tantos nadas do dia a dia.
Há algum tempo, vi um grupo de amigos fundar uma
casa espírita.
Um colaborador queria começar todas as
atividades, de imediato: estava na recepção, também na livraria, cuidava do estudo,
não saía mais do centro. De domingo a domingo estava no labor, sem parar...
Passou o tempo.
Após assumir muitos compromissos, de repente ele
desapareceu.
Sumiu de todos os trabalhos.
Um dia, eu ia andando por uma avenida, na
cidade, e o encontrei.
Perguntei o que tinha acontecido, porque ele havia
sumido das tarefas naquela casa, e então ele me respondeu: - me cansei de tanto
trabalho, agora eu sou espírita freelancer!...
Assim disse para me explicar que, agora,
quando queria, fazia alguma atividade em alguma casa espírita, aqui ou ali...
E só. Sem compromisso.
E só. Sem compromisso.
Lamentei.
Não podemos deixar a caridade, no nosso
coração, esfriar...
Isso denota falta de perseverança diante das
tarefas.
E, manter perseverança, dá também conta da
nossa condição espiritual.
Perseverança é firmeza, constância nos
propósitos. É seguirmos adiante, para além das dificuldades, sem desistirmos.
Na nossa vida, encontramos obstáculos, todos
os dias.
Aqui, é a dificuldade que se faz presente.
Mais ali, nos falta a fé...
Mais um pouco e nos envergonhamos do nosso
pouco desenvolvimento espiritual e, pior, nos retraímos diante das tarefas
apresentadas, achando-nos pequenos demais...
Precisamos nos encorajar, apesar da condição
espiritual em que nos encontramos.
Na verdade, os apóstolos que Jesus escolheu
também titubearam em alguns instantes.
Vejamos o episódio da barca (2).
Jesus dormia. Começou a tempestade. Os
discípulos se apavoraram:
- Mestre, nós vamos morrer e tu dormes?!
Vejamos a insegurança neles...
...E era Jesus quem estava ali!
Jesus, que ultrapassa, sem limites, a
condição espiritual de todos os habitantes do planeta!
Na verdade, não temos nem condições de
avaliar o quilate espiritual do Mestre.
Apenas sabemos que, em nossa humilde
condição, devemos segui-lo...
E seguimo-lo porque são os Espíritos quem nos
falam, em resposta a Kardec (3), que Ele é o modelo mais perfeito e puro que já
pisou a Terra.
Então, para nosso modelo de condição
espiritual a ser alcançada, Jesus é a referência.
A pergunta que temos de sempre fazer é: em
que condição espiritual vamos, desta vez, retornar à Espiritualidade, de onde
saímos um dia, cheios de promessas?
Qual é o lastro que levaremos conosco?
Numa alegoria, podemos dizer que, na
Contabilidade Divina, nosso ativo serão sempre as aquisições de ordem moral.
Essas, na hora do desencarne, apresentam-se
com liquidez imediata!
Falam de nós, dão conta de nós.
Apenas elas.
Então o natural é cobrarmos de nós, que já
estamos na Doutrina, um arquivo de obras do bem realmente feitas.
E o que não é natural é deixarmos que os
pequenos empecilhos, onde a gente também escorrega, façam-nos estacionar no
erro...
A proposta da Doutrina Espírita, para nós, é
uma proposta de auto-responsabilização, sem a culpa que desestrutura o psiquismo.
A responsabilização, ao contrário, eleva-nos,
nos dá renovada estatura moral, porque nos mostra que podemos refazer os nossos
caminhos, não como vítimas de nós mesmos, mas como pessoas que têm a grandeza
de recomeçar.
E, então, seremos perseverantes diante das
transformações necessárias.
A gente não olha o espelho do rosto?
Precisamos também auscultar a alma!
Não temos tantos projetos de vida?...
Temos de ter projetos espirituais também!
Precisamos ser protagonistas de nossa própria
transformação espiritual.
Ninguém contrata um arquiteto, um
profissional de obras, e fica do lado de fora da residência, esperando que os
outros façam as transformações desejadas, sem opinar, sem explicar, sem participar
da reforma...
Da mesma forma, para alterarmos a nossa
condição espiritual, precisamos olhar para nós mesmos, reconhecendo nossos
defeitos, nossas dificuldades, e, também, exaltar alguma virtude de que sejamos
portadores, para avançarmos.
Sem autoavaliação, não é possível construir-se
nada...
O que precisamos nos lembrar é que somos
herdeiros de nossas próprias conquistas, porque somos responsáveis por elas.
E podemos alterar nossa trajetória
espiritual, porque, aprendemos, não há engessamento na lei de causa e efeito.
Sejamos perseverantes.
Não podemos deixar que pequenos desencantos
nos façam desistir.
Se deixarmos esfriar o ímpeto para o
trabalho, para o bem, vamos deixar de agir em prol do próximo e, naturalmente,
estaremos deixando de fazer por nós mesmos.
Cabe ao espírita caminhar decidido, com
perseverança.
Continuar seguindo, com a consciência lúcida,
amadurecida, sem se desesperar ante as pequenas dificuldades.
O que é importante
lembrarmos é que a condição que chegaremos ao plano espiritual e às próximas
vidas está sendo definida agora.
Publicado no jornal O Clarim julho/2016
https://www.oclarim.org/oclarim/2016/Julho/318/jornal-o-clarim.html
Referências:
1)
Mateus, 24: 24
2)
Marcos, 4: 38
3)
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83ª. ed.: Rio de
Janeiro, FEB. q. 625, p. 308.
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