Por Warwick Mota
A pergunta respondida pelo Espírito Bernardino,
no Evangelho Segundo o Espiritismo, é sempre inquietante: “deve-se alguém por
termo às provas do seu próximo quando o possa, ou deve, para respeitar os
desígnios de Deus, deixar que sigam seu curso?” (1).
À luz da sabedoria, a questão que se coloca é:
podemos dar fim às provas por que passa nosso próximo?...
Mais do que poder ou não poder, devemos?!
Essa pergunta, se bem pensada, remete-nos a uma
série de largas considerações.
O sofrimento nosso - tanto quanto o alheio - localiza-se,
na Terra, no campo das enfermidades, das dificuldades afetivas, dos empeços materiais
de toda ordem, tudo fazendo parte do processo de evolução do homem no planeta.
Em primeiro lugar, impende saber que haveremos
de viver sob o jugo das aflições, é fato, pois que a Terra nada além é do que pequeno
planeta destinado a provas e a expiações.
Toda expiação também estará nos provando,
conquanto nem toda provação, aquilo que o Espírito requisita para si, traz, em
seu bojo, expiação de alguma espécie. Mas, em ambas as situações, ou nas
provas, ou nas expiações, sempre haverá as aflições, porque, no presente
estágio espiritual em que nos encontramos, desafios é o de que necessitamos
mesmo, para nos melhorarmos.
A dor acontece em todas as famílias e não
espera decreto para acontecer.
Não está em dada classe social, nem faz acepção
de pessoas.
Todos, de alguma forma, vivenciam-na.
Nesse sentido, consola-nos saber que, quando
mais evoluídos, não viveremos dessa forma tão sofrida, porquanto aquele que
mais se aproxima da perfeição não necessita expiar, nem precisará ser
constantemente provado...
Acerca da questão, se devemos ou não minorar o
sofrimento de outrem, o que precisamos entender é que a reencarnação não é casuística
para se viger a Lei de Talião, a ultrapassada aplicação do “olho por olho;
dente por dente”.
Muito ao contrário: reencarnação é oportunidade
para renovação espiritual, embora alguns desavisados possam interpretar mal o
ensinamento, explicitado pela Doutrina Espírita, de que há colheita afim ao que
se planta, e pensar que “se alguém sofre porque deve, então deve sofrer”...
Mero sofisma que precisa ser combatido!...
Nós não temos o direito, nem jamais o teríamos,
de querer estabelecer a Justiça Divina, segundo o nosso conceito amblíope de
justiça.
Grande erro!
Não nos cabe, em absoluto, fazer juízo de valor
com relação à Justiça Divina.
Também, sob nenhuma hipótese, temos o direito
de aprofundar o dedo na ferida do próximo, para agravarmos-lhe as dificuldades.
Esse, o pior dos mundos: chegar-se ao cúmulo de
se imiscuir na vida da outra pessoa, para dificultar-lhe a marcha.
Antes de tudo, pensemos na Lei Áurea: façamos,
aos outros, aquilo que quereríamos nos fosse feito, conforme nos ensinou Jesus.
Colocando o aprendizado em primeiro plano: os
erros que perpetramos no passado, e nos quais ainda incorremos muitas vezes,
também haverão de nos cobrar a cota de dor em nossas vidas, mas, nem por isso,
abriremos mão de quem nos ajude, nem por isso, por termos resvalado em
equívocos passadiços, deixaremos de pedir socorro e refrigério para a nossa
alma.
Nisso, não há incongruência de espécie alguma.
Pensemos que o sofrimento por que passa um
nosso irmão não tem somente o caráter de adequá-lo às leis naturais da vida, mas
deve servir também para nos sensibilizar a todos acerca das dores do nosso
próximo, incentivando-nos à busca do que é possível, para minorar esse sofrimento.
Não fosse assim, onde exercitaríamos a fraternidade?
Se nos situarmos na escusa de que o sofrimento
pertence a cada um e deve seguir o seu curso, na verdade nada mais estamos do
que nos entrincheirando em nosso próprio egoísmo, quando Jesus veio nos ensinar
exatamente o oposto, veio nos ensinar a “darmos também a capa, se nos
solicitarem a túnica” (2).
Sempre que possível, devemos intervir, sim, para
minorar a dor do outro, aprendendo a ajudar sem humilhar.
Esse, também grande aprendizado.
E, o maior: ajudar, antes de a pessoa pedir
ajuda, com sutileza, sem ferir, entendendo que a dor do outro, assim como a
nossa, é sempre justa, mas, nem por isso, estamos desobrigados de sermos um Cirineu
na estrada, aliviando, por pouco que seja, o peso da cruz de quem a carrega.
Talvez aquilo que negamos hoje, ao irmão que
tanto necessita, é o que nos faltará amanhã, quando precisarmos também, por
nossa vez, curarmos as nossas feridas.
Não fosse assim e admitiríamos por natural a
selvageria de vermos a catástrofe desabar à nossa volta, estando nós nos aquietando
de braços cruzados, aguardando um desfecho fatídico.
Não é isso que nos ensina a Boa Nova.
Ajudemo-nos em nossas respectivas provações.
Amparemo-nos mutuamente.
Aproveitemos todas as oportunidades, que a vida
nos trouxer, de minorar o sofrimento alheio.
Especialmente os espíritas devem compreender a
extensão infinita da bondade de Deus, pregando resignação e paciência, mas
atuando com fé e bom senso.
Esse é o exercício da fraternidade.
A vivência do amor, conforme Jesus no-lo
ensinou, dá-nos ensejo a que exercitemos nossas virtudes, novos valores.
É uma bênção viver servindo, porque esse é o
Espiritismo prático, a essência da Doutrina Espírita posta em prática!
E, não duvidemos: nossos irmãos não espíritas,
ao nos olharem, veem, em nós, o que é, verdadeiramente, o Espiritismo
praticado...
Saiamos um pouco mais de nós, na exemplificação
do amor do Cristo.
Talvez a fome maior que haja hoje, na Terra,
não seja a de alimento, mas a fome de amor.
Agradeçamos ao Mestre Jesus por seu eterno exemplo
de fraternidade e de amor incondicional, tentando, nós mesmos, por nossa vez,
depositar alguma flor no campo que margeia a estrada dos outros.
Certamente essas mesmas flores depositadas haverão
de, um dia, margear a nossa estrada de conquistas espirituais, adquiridas, uma
a uma, por meio de nossas atitudes no bem.
Publicado no Reformador jan/2017- http://www.souleitorespirita.com.br/reformador/
Referências:
1) KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 131ª. ed., Brasília: FEB, 2013. Capítulo V, item 27. Bem aventurados os aflitos, p. 100.
2) Mateus, 5:40
1) KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 131ª. ed., Brasília: FEB, 2013. Capítulo V, item 27. Bem aventurados os aflitos, p. 100.
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