sexta-feira, 3 de junho de 2016

RECOMENDAÇÃO DETESTADA

Por Warwick Mota

O que seria, na nossa vida, uma recomendação rejeitada?
 
Na obra Cartas e Crônicas, o Espírito Irmão X traz a história de Custódio (1), um amigo que ele reencontra no plano espiritual, o qual, embora nascido na Terra em lar espírita e ter recebido, ao longo da existência, reiterados chamados ao trabalho edificante e à reforma íntima, apresenta-se de volta à pátria espiritual na base do “ganhou, mas não leva”, ou seja: muito preparo, excelente bagagem doutrinária, mas nenhuma ação efetiva no Bem.
Todas as recomendações que Custódio, em vida, recebera, foram-lhe inúteis, porque sumariamente rejeitadas...
Nesta crônica, maravilhosa, evidenciam-se as recomendações que a maioria de nós ainda detesta...
 
Na Terra, ainda é muito comum buscarmos o conforto, em vez de quaisquer dificuldades; querermos que Deus resolva tudo o que consideramos injustiças para conosco e reveja nossa situação...
Pensemos no quanto de responsabilidade temos sobre o cenário das nossas vidas, não culpando Deus, os espíritos ou quem quer que seja pela desordem instalada, seja esta física ou espiritual.
O Evangelho nos traz, claramente, a questão das causas anteriores e das causas atuais das aflições (2).
Então o homem é o artífice de seu próprio destino e receberá de volta a reação do que praticar, nesta ou em existências futuras.
Dificuldades financeiras são exemplos clássicos de perturbações que, muitas vezes, nós mesmos nos infligimos.
Em grave crise material, a pessoa culpa o destino: a situação é fruto de suposta “má estrela” ou terá sido pura imprevidência?!
É de se observar...
Há também, as dificuldades no campo da saúde.
Elas tiveram origem no passado encarnatório do indivíduo?
Talvez sim, talvez não...
Pois há que se verificar se houve abusos.
Os vícios morais também nos adoecem.
Por isso vem a recomendação, que muitas vezes rejeitamos, de nos esforçarmos para sermos melhores, em nosso próprio benefício.
A recomendação é difícil, mas tem de ser seguida.
Significa lutarmos contra o que de ruim ainda existe em nós: o ciúme, a ausência do perdão, a maledicência, a propensão às traições e ao mal de toda ordem. Tudo o que só trará conseqüências funestas a nós mesmos, senão nesta, em futuras existências.
Precisamos combater tanto ainda em nós: aquela mania de falar demais, sem deixar os outros falarem; o péssimo hábito de acharmos que só nós estamos certos, taxando os outros de errados; a megalomania de nos considerarmos superiores; o costume de mentir, para se justificar; o vício de querer dominar...
Se formos enumerar, a lista é sem conta.
Tem também a mania de iludir; o gosto por se vitimizar, fazendo do sofrimento uma muleta, vida afora; o hábito contínuo de se lamentar, comprazendo-se com o sofrimento...
São falhas morais, que os espíritos nos recomendam combater.
E não há mais como rejeitarmos essas recomendações, se quisermos ser o homem novo que a Doutrina Espírita convida-nos a ser.
O Espírito Meimei conta-nos a lenda dos que três jovens que pediram ardentemente que Jesus lhes aparecesse (3).
Quando o Mestre veio, um deles pediu ao Senhor que lhe concedesse beleza. O outro pediu riqueza. O terceiro, o que fosse justo...
Concedido os pedidos, o terceiro ganhou uma pedra.
E os outros fizeram pilhéria dele.
Afastaram-se.
Anos passados, no entanto, quando a beleza tinha se acabado e a riqueza também, os dois rapazes, empobrecidos e tristes, foram então socorridos por aquele simples terceiro, que houvera recebido apenas a  pedra que Jesus lhe enviara.
Foi aí que os dois vieram a saber que o terceiro rapaz tornara-se muito rico, pois, lapidando a pedra recebida, descobrira, nela, grande tesouro oculto...
A alegoria serve a nós mesmos: quantas vezes nos preocupamos apenas em crescer no campo material, esquecendo-nos da recomendação de Jesus, de que acumulemos tesouros que a traça não corrói?
É a recomendação acertada - porém, por nós, em tantas encarnações, rejeitada.
Quantas vezes não cometemos abusos de toda ordem, conosco mesmos, pelo excesso de trabalho, no afã do ter?
Não é isso que Jesus nos recomenda.
A recomendação verdadeira é de perseverança na vida, de constância nos propósitos, de força nas dificuldades.
Nossa existência também pode ser vista como uma rocha a ser burilada, a partir das dificuldades enfrentadas.
E são dificuldades das mais variadas, pois se relacionam à condição do planeta em que habitamos, que é um campo de provas e de expiações...
Em Transição Planetária, o Espírito Bittencourt Sampaio (4) também nos traz severa recomendação, chamando-nos à responsabilidade, num tempo de transição. Diz: “Porfiai, pois nos objetivos abraçados, sem jamais temerdes as forças do mal, que se diluem como a neblina ante o calor do Sol da Verdade, instituindo o período do amor como essencial para a felicidade de todos”.
Nesse momento, a assunção das nossas responsabilidades é que definirá a nossa estatura moral.
Podemos contribuir!
Quantas vezes nossos mentores ainda lamentarão as tarefas que abandonamos, em plenas condições de concluí-las com êxito?
Quantas vezes abandonaremos a oportunidade de servir, por impaciência ou pretenso cansaço?
Aceitemos a recomendação de cumprirmos nosso projeto de vida, agora sem olhar para trás, sem contar as dificuldades, sem desanimar, apesar dos tropeços do caminho.
Já rejeitamos muito as recomendações de Jesus, agora não vamos mais reclamar das dificuldades, porque os grandes empecilhos também passam.
Os Espíritos nos inspiram, nos recomendam, mas a escalada depende de nós.
Continuar depende de cada um.
 

Referências:

1)    XAVIER, Francisco Cândido (Pelo Espírito Irmão X). Cartas e Crônicas. 13ª. ed., Rio de Janeiro, FEB, 2010, p. 41.

2)    KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 131ª. ed., Brasília, FEB, 2013, p. 79.

3)    XAVIER, Francisco Cândido (Pelo Espírito Meimei). Pai Nosso. 27ª. ed., Rio de Janeiro, FEB, 206, p. 40.

4)    FRANCO, Divaldo (Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda). Transição Planetária. 5ª. ed., Salvador, Leal, 2012, p. 228.

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