A transitoriedade é uma
das características que marcam os mundos de expiação e provas, como o planeta
em que vivemos.
Nesses orbes, os
acontecimentos são sempre de natureza breve ou temporária, não possuindo, nenhum
sofrimento ou alegria, caráter definitivo, e a perturbação e a incerteza estão presentes
em toda a ordem social, em atos e fatos.
Para esse cenário de intermitência,
afluem acontecimentos de todos os matizes. Tramas e dramas desenvolvem-se,
pontilhados pela dor, e experiências são vividas sob diversas formas,
resultando, a cada ser, num legado moral que termina por impulsionar o homem ao
cumprimento inexorável da Lei do Progresso.
Situa-se, nesse panorama
de avanço, a dor, como ferramenta fundamental ao burilar das criaturas, em seu
processo de desenvolvimento, pois ela, a dor, está presente em todo o caminhar
da humanidade, como o látego que nos faz acelerar o passo e andar para frente,
retomando os caminhos que, muitas vezes, perdemos em divagações e equívocos.
Inobstante à
ampliação das conquistas materiais e tecnológicas humanas, vivemos dias de
crises morais na Terra. Dias de perda de valores de consciência, de sofrimento
pela ausência de afeto; pelas falsas escolhas, em uniões infelizes; pela falta
de apoio; pela ambição desmedida; pela falta de temperança e bom senso. A
verdade é que ainda somos seres que tateiam, no campo das realizações
interiores.
Nesse
cenário, a dor é o instrumento pedagógico por excelência, porque muitos caem
por sua própria culpa, e a ninguém é dado fugir aos ditames da lei. E, especialmente,
a dor moral, aquela sentida no âmago da alma, tem o condão oportuno de provocar
profundas reflexões. É quando ela lateja, a dor moral, que o Espírito,
independentemente da sua condição, se encarnado ou desencarnado, passa a
enfrentar o tribunal da própria consciência.
Nos
momentos de encontro conosco mesmos, palmilhados pelo sofrimento moral, nossos
atos equivocados provocam intensa angústia, acompanhada do sentimento de
vergonha, da negação de nós mesmos. À luz desse cenário, o remorso potencializa
o sofrimento, e a culpa faz-se verdugo impiedoso.
É
a hora de se aprender para a eternidade.
Aprende-se
com as experiências dolorosas e compreende-se, a duras penas, que só evoluímos
quando incorporamos as situações vivenciadas como aprendizado perene, do
espírito.
É
quando as dores da alma podem nos ensinar, para as experiências futuras.
Da
mesma forma que o arco-reflexo nos impedirá de colocarmos o dedo numa
superfície quente, porque uma vez já nos queimamos, nossas experiências
passadas, se bem compreendidas, impedir-nos-ão de sermos reincidentes nos erros,
para que não soframos novamente.
Ensinam-nos
os Espíritos que todas as particularidades da nossa vida são registradas em
nosso perispírito, gerando lembranças inapagáveis. As dores verdadeiramente
sentidas, as dores da alma, essas nos marcam indelevelmente.
A
contrapartida da dor é que ela produzirá, na alma encarnada ou, com mais
intensidade, no espírito desencarnado, o arrependimento e, com ele, a vontade
sincera de se reconstruir a aliança com o Criador, aplacando-se a tempestade
íntima e dando-se início ao processo de recondução do ser ao caminho do Bem.
O
reencontro com Deus significa, por fim, a renovação. Promove a auto-reconciliação
e abre novas perspectivas para o recomeço. É o amor do Pai que se derrama sobre
nós, revestido de formas inumeráveis, sendo o amor que se manifesta sob todos
os aspectos, da forma mais simples à forma mais elaborada, da forma mais sutil
à forma mais profunda.
É
pelo amor incondicional de Deus que somos reconectados aos caminhos do Bem e à
conquista final da liberdade, conforme estabelece a proposta de Jesus:
Vinde a mim todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de
mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas
almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (1)
Quando ouvimos o chamado
do Divino Amigo, sentimo-nos fortes e resolutos. Então as
dificuldades apequenam-se, porque a força que nos impulsiona é muito superior, e
uma serenidade, antes inalcançável, transforma-nos em fortalezas de fé que nos fazem
vencer as intempéries da travessia.
A par disso tudo, cumpre-nos
saber que “tudo o que vive neste mundo, natureza, animal, homem, sofre, e,
todavia, o amor é a lei do Universo e por amor foi que Deus formou os seres”.
(2)
Em que pese o
buril penoso da dor que nos emula, fomos criados pelo e para o amor, e essa
certeza do amor incondicional de Deus para com as suas criaturas renova nossas
esperanças e fortalece a nossa resignação perante todas as provas e todas as expiações.
Matéria de capa jornal o Clarim janeiro 2016
“O Clarim”; Matão, janeiro de 2016, p.3: https://www.oclarim.org/oclarim/materias/4531/jornal/2016/Janeiro/dores-da-alma.html
Referências:
1- Mateus, 11: 28-30
2-DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor: os testemunhos, os fatos,
as leis. 32ª. ed. FEB: Brasília, 2013, p. 347.
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